Partida contra o Alavés pôs fim a uma sequência ruim do Real Madrid de apenas um gol em 4 jogos ao longo do mês do
A fase do Real Madrid em fevereiro não era boa, e a vitória por 3 a 0 sobre o Alavés no sábado (19) aliviou a pressão sobre o time. Antes desse jogo, o time madridista tinha disputado quatro jogos no mês, com uma vitória, um empate, duas derrotas e apenas um gol marcado. A ausência de Benzema, fora do time por lesão, impactou severamente o poderio ofensivo da equipe, que acabou custando uma vaga para as semifinais da Copa do Rei.
Além disso, Ancelotti vem repetindo um erro que custou caro em 2015, na primeira passagem do italiano pelo Real Madrid. A falta de um rodízio no elenco para poupar as principais peças vem causando um desgaste físico nos atletas. Isso culminou nas lesões de Benzema e Mendy, além de atuações abaixo da média de Kroos, Modric e Vinícius Júnior por causa do cansaço.
Por fim, o problema do Real Madrid também é tático. As duas principais dificuldades que o time de Ancelotti vem apresentando são uma falta de variação tática e uma queda de nível no estilo de jogo reativo do treinador. Após a derrota por 2 a 1 para o Espanyol, o treinador apostou em um desenho tático com um bloco mais baixo, apostando nos contra-ataques. A escolha do italiano funcionou muito bem, já que o Real Madrid venceu 10 jogos seguidos assim e se isolou na liderança de LaLiga. No entanto, ao longo do mês de fevereiro o time passou a produzir menos e a sofrer mais. Além disso, Ancelotti não conseguiu mudar a formação do time e se manteve no 4-3-3, mesmo sem conseguir grandes resultados jogando assim.
Auge do Real Madrid na temporada e o jogo reativo
A derrota por 2 a 1 para o Espanyol em 3 de outubro de 2021, logo após a traumática derrota para o Sheriff pela Champions, fez Ancelotti repensar o estilo de jogo do Real Madrid. O time espanhol disputara 10 jogos até então, marcando 24 gols mas sofrendo 12. O treinador italiano apostava em um estilo de jogo com mais posse de bola e com um bloco defensivo alto, mas essa postura ofensiva acabou custando caro defensivamente. Assim, após as duas derrotas, Ancelotti promoveu uma mudança no Real Madrid para superar o problema defensivo e manter o alto nível na temporada.
A ideia do italiano passou a ser um estilo de jogo mais equilibrado. O técnico mudou para um bloco baixo ao defender, sem expor as costas da defesa. No ataque, o Real Madrid passou a ser mais direto com a bola e a buscar investidas rápidas, apostando no contra-ataque.
A partir disso, o Real Madrid voltou a crescer na temporada e atingiu seu auge sob Ancelotti. O time chegaria a ficar 15 jogos invictos e alcançaria a incrível marca de 10 vitórias seguidas. Nessas 15 partidas, o Real Madrid marcou 31 gols e sofreu apenas 7. Desse modo, Ancelotti conseguiu manter o volume ofensivo e conseguiu atingir uma ótima solidez defensiva.
Tática do Real Madrid sob Ancelotti
O Real Madrid apostava em uma saída de bola elaborada, com Alaba e Militão participando ativamente. Os laterais recuavam e se posicionavam mais por dentro para ajudar na troca de passes, e Toni Kroos ou Casemiro recuavam entre os zagueiros para virar mais uma opção de passe na saída de bola.
O meio de campo circulava a bola rapidamente pelo setor e distribuí-la aos atacantes. A saída de bola limpa e elaborada do Real Madrid acionava os meias com facilidade, e era ali onde o jogo reativo de Ancelotti tomava corpo. Kroos, Modric e Casemiro eram capazes tanto de manter a posse quanto de avançar rapidamente no campo, com passes curtos e longos.
O trio de ataque do Real Madrid contou com a ascenção de Vinícius Júnior, que cresceu com esse estilo de jogo. Além disso, a ótima forma de Benzema e um rodízio na ponta direita entre Rodrygo e Asensio compunham um ataque rápido e objetivo. O mecanismo do trio ofensivo do time se baseava na movimentação e genialidade de Benzema, que fazia a ligação entre meio-campo e ataque facilmente. O brasileiro Vinícius Júnior se mantinha aberto na ponta esquerda, pronto para atacar as costas da defesa. Enquanto isso, tanto Asensio como Rodrygo circulavam mais pela ponta direita, caindo mais por dentro e participando da troca de passes.
O avanço dos laterais também era importante. Enquanto Carvajal passava a atuar mais por fora, preenchendo o espaço que o ponta direita deixava, Mendy continuava a atuar por dentro para compor o jogo de Vinícius Júnior, que ficava mais aberto. Desse modo, o Real Madrid apostava na velocidade de Vini para romper a defesa adversária, com Benzema atuando como um armador avançado e como um finalizador na área e contando com a ajuda dos laterais e do ponta pela direita.
Começo dos problemas
O estilo de jogo do time de Ancelotti se baseava na eficácia de seus atacantes. Desse modo, o Real Madrid mostrava uma peculiaridade. O time superou muito seus expected goals (xG abreviado, em português “gols esperados”). A estatística xG avalia a qualidade de uma finalização baseada na probabilidade de se tornar um gol. Por exemplo, um chute de fora da área tem um xG baixo, já que é difícil marcar um gol de fora da área.
Um gol de dentro da área tem um xG maior porque a chance do gol ser marcado é maior, e as cabeçadas têm um xG menor porque cabeçadas são difíceis. Seguindo essa métrica, em dezembro o Real Madrid tinha marcado 9 gols a mais do que os “gols esperados”.
Isso ocorreu por vários motivos. Primeiramente, a eficácia de Benzema e Vinícius Júnior elevou os gols marcados pelo time. Em segundo lugar, os times que o Real Madrid enfrentava frequentemente se posicionavam em um bloco muito baixo, forçando os madridistas a achar um espaço em defesas fechadas. Por fim, o Real Madrid apostava em jogadas por fora, por causa da grande fase de Vinícius Júnior e do estilo de jogo de Benzema.
O atacante francês atua como um falso 9, recuando para o meio de campo e liberando espaço para os pontas atacarem a área em um movimento diagonal. Desse modo, muitos gols do Real Madrid foram marcados através do movimento de um dos pontas invadindo a área de fora para dentro. As finalizações vinham mais laterais, ou seja, eram mais difíceis que finalizações vindo diretamente do centro do ataque, e contavam com a eficácia dos pontas para finalizar. Além disso, o time também usava muito os cruzamentos. Cruzar uma bola na área contra times muito fechados produzem finalizações apertadas e, portanto, mais difíceis.
A decadência do jogo do Real Madrid
A decadência na qualidade do jogo do Real Madrid passa necessariamente pela queda física da equipe ao longo da temporada. Ancelotti escolhia um estilo de ataque que colocava os atacantes em situações onde a finalização é mais difícil, ou seja, se a eficácia deles não for mantida, a produção ofensiva sofrerá muito.
Ancelotti sofre críticas da imprensa espanhola desde sua primeira passagem pelo Real Madrid por não promover um rodízio constante no time ao longo da temporada. Por causa disso, os jogadores passam a sofrer fisicamente por não serem poupados nos jogos, custando a queda de rendimento de alguns e a lesão de outros.
Na atual temporada, não foi diferente. O grande nível do Real Madrid até janeiro seria recompensado pelo título da Supercopa da Espanha, mas a falta de um rodízio promovido por Ancelotti exigiu muito do time ideal dos merengues. Isso acabou resultando na lesão de Mendy, que prejudicou o time tanto defensivamente quanto na saída de bola, e de Benzema.
O desfalque do camisa 9 foi o mais sentido. O francês era o principal armador da equipe no ataque, responsável por conectar os atacantes com o meio-campo e direcionar as corridas ofensivas dos pontas. Sem ele, o Real Madrid não perdeu apenas sua principal engrenagem ofensiva, mas também sua presença de área e eficácia nas finalizações.
Ancelotti tentou jogar com Asensio ou Isco como falso 9, mas nenhum tinha a criatividade e muito menos a presença de área de Benzema. O desgaste físico de Vinícius Júnior, que chegou a jogar 5 jogos em 13 dias por clube e seleção, também impactou a produção ofensiva do time, já que o Real Madrid perdera seus dois melhores atacantes. O meio de campo tampouco saiu ileso, com Kroos e Modric sofrendo fisicamente.
Jogos ruins em fevereiro
O mês de fevereiro foi traumático para o Real Madrid. Até o dia 25, os merengues disputaram cinco jogos, venceram dois, perderam dois e empataram um. Ambas as derrotas foram em competições de mata-mata: jogo único contra o Athletic Bilbao pelas quartas de final da Copa do Rei e a partida de ida contra o PSG pela Champions League.
Os problemas ofensivos do Real Madrid ficaram claros em fevereiro: em três dos cinco jogos, o time não marcou gols. A falta de Benzema como um armador avançado e principal goleador e a queda física de Vinícius Júnior foram os principais motivos. Além disso, Asensio (que ganhou a disputa pela titularidade na ponta-direita) não mostrou um nível convincente e Isco e Hazard não conseguiram apresentar um bom futebol, contribuindo pouco para a produção ofensiva do time.
O jogo contra o PSG foi o cúmulo dos problemas. Benzema voltou à equipe, mas não estava 100% fisicamente e não fez quase nada durante a partida. Asensio jogou mal e Vinícius mal foi acionado. Kroos, Modric e Casemiro não conseguiram se impor, a marcação do PSG não deixou o Real Madrid sair do próprio campo e a defesa sofreu. No final, o 1 a 0 ficou barato.
Os problemas do time iam além do físico. Frente aos desfalques, Ancelotti não se mostrou aberto a mudar o desenho tático e se prendeu ao 4-3-3, mesmo sem as peças necessárias para executar o modelo. Jovic, Isco e Asensio não foram capazes de atuar no papel de Benzema e substituir satisfatoriamente o francês. Em adição, a falta de velocidade dos pontas não permitia mais o modelo de ataques rápidos pelos lados.
Futuro tático do Real Madrid
Após um bom segundo tempo contra o Alavés e uma conversa entre comissão técnica e jogadores, Ancelotti resolveu promover uma mudança. O treinador revelou na última coletiva que planeja que o Real Madrid apresente uma marcação mais agressiva e adiantada para ter mais controle das partidas sem a bola. Ancelotti estava receoso em aplicar esse estilo no começo por causa do físico de Kroos e Modric, mas entendeu que o time está pronto para essa intensidade.
A nova tática exige uma participação maior de Federico Valverde e Camavinga no time titular. Há uma sensação dentro do clube que os dois jovens meio-campistas deveriam jogar mais. Assim, o Real Madrid teria jogos mais intensos e poderia poupar o trio titular no meio de campo. O uruguaio e o francês têm como uma das principais características a intensidade e o vigor físico, ideais para um estilo de marcação mais adiantado e agressivo.
Os jogadores do elenco aprovam a mudança. Eles acreditam que o Real Madrid precisa de mais força e intensidade física nos jogos. Uma maior minutagem para Valverde e Camavinga é, portanto, bem vista dentro do vestiário. Além disso, após o jogo contra o PSG os jogadores sentiram que mudanças eram necessárias. Uma marcação mais adiantada evitaria que o Real Madrid ficasse acuado, como no jogo da Champions.
A ideia do Real Madrid é roubar a bola mais perto da área para que Benzema e Vinícius sejam mais letais e Modric tenha mais protagonismo com a posse. Porém, além desse estilo exigir mais presença de Camavinga e Valverde, ele também tem um maior custo físico. Se Ancelotti continuar evitando o rodízio de jogadores no elenco, o time sofrerá fisicamente e o resto da temporada pode ser comprometido.