Em entrevista à Real Madrid TV, Fabio Cannavaro falou sobre sua passagem no clube e a trajetória no futebol. Além disso, o ex-zagueiro também recebeu, durante a conversa, elogios de Roberto Carlos. Atualmente técnico do Guangzhou Evergrande, clube chinês, aproveitou a conversa e também comentou sobre a situação do Coronavírus na China. Confira a entrevista!
Jogar com Roberto Carlos à sua esquerda: “Para mim sempre foi um prazer jogar com pessoas como ele. Também joguei com Marcelo e foi um orgulho. Eles são os dois melhores alas esquerdos que o Real Madrid teve. Ambos gostam de ir à frente, para mim foi muito complicado. É sempre um prazer olhar para as costas de pessoas como eles”.
Corredor de aplausos feito pelo Barcelona em 2008: “Foi dito que eles não iriam fazer, que não queriam. Eles mostraram muita personalidade ao fazê-lo. Eles provaram ser uma equipe forte e humilde que respeita os campeões. Eu disse a Puyol que eles fizeram uma coisa espetacular, um sinal de respeito, apesar de tudo o que estava acontecendo entre Barcelona e Madrid. Nós realmente gostamos”.
O ex-companheiro Zidane: “O melhor jogador com quem já joguei foi Ronaldo, mas também tenho muito respeito por Zidane. Ele tinha muita classe e era um líder em campo. Quando começou a ‘dançar’ com a bola, ele nos deixou loucos. Ele era um mágico com a bola”.
Usar o número 5: “A camisa 5 estava livre quando cheguei. Disseram-me se eu tinha certeza de usá-la, que seria difícil. Tínhamos um estilo diferente, mas eu tinha personalidade para usá-la. Você só pode parabenizá-lo. Como jogador, espetacular. Como treinador, tiro o chapéu. Todos estão encantados com ele e ele continuará por muitos anos em Madrid”.
China: “Eu vivi todas as fases. Eu fui lá, voltei… Agora treinamos sem problemas. Restaurantes, supermercados, bancos abriram. A vida está começando a ser normal. Eles controlaram o vírus, e fizeram muito bem, conscientizaram as pessoas de não sair. A organização tem sido espetacular. Na Europa, eles estavam errados, não entenderam o perigo real, pensaram que era uma gripe normal”.
Carreira: “Sempre tive muita sorte. Realizei meus sonhos quando criança. Nunca pensei que fosse jogar pelo Real Madrid. Desde o primeiro dia percebi o sentimento, o respeito das pessoas. Os três anos em que vivi em Madri foram os três melhores da minha vida. Uma pena que eu fui depois da Copa do Mundo e tive dificuldades para me adaptar ao futebol espanhol. A primeira liga foi muito difícil e o último jogo em casa (Mallorca) foi uma loucura”.
Relação com Capello: “Não foi fácil entrar no vestiário do Madrid, havia muitas pessoas com personalidade. O relacionamento com Capello sempre foi bom. Um dia eu disse a ele que ele estava muito cansado, não tinha casa e estava com três filhos. Disse a ele que queria parar e ele respondeu para eu não me preocupar, que ia ajudar a vencer a La Liga. Os companheiros de equipe sempre estavam me ajudando. A equipe conseguiu tudo o que precisava, com uma remontada espetacular”.
Ganhar a Bola de Ouro “Se fala muito sobre a Bola de Ouro porque é difícil ganhar sendo um zagueiro. As pessoas disseram que não era possível. Na minha vida, vi dois que poderiam ter ganhado: Paolo Maldini com o Milan e Roberto Carlos. Roberto jogou com um fenômeno à frente e o atacante sempre recebeu o prêmio. Muitos grandes jogadores como Zidane, Ronaldinho, Henry… falharam muito no ano da minha bola de ouro”.
Copa do Mundo de 2006: “Muitas vezes eu ouvi dizer que o futebol italiano só pensa em defender. Na Copa do Mundo vimos um time diferente, que queria jogar bem e às vezes terminava os jogos com quatro atacantes. Faltando 20 minutos, eu disse a Lippi se ele estava ficando louco por colocar tantos atacantes. Ele respondeu que estava muito confiante e que os alemães poderiam passar três dias sem marcar um gol com os defensores atrás. Foi um dos jogos mais bonitos do futebol”.
Os defensores do Real Madrid e sua evolução: “Eu estava convencido da qualidade de Ramos, Marcelo e Pepe. A linha defensiva era comigo e os três. Marcelo teve um pouco de dificuldade porque Schuster o colocava à frente. Parecia ser diferente, os três eram. Eles só precisavam crescer e ganhar confiança. Tinham muita personalidade, eram muito inteligentes e pretendiam passar muitos anos no Madrid. Eles foram os melhores dos últimos quinze anos”.
A personalidade do grupo: “A penalidade do time foi na Champions League, mas a La Liga de Capello foi uma loucura. O grupo era forte e não estava dividido como as pessoas diziam. Tínhamos muita personalidade, de gente ganhadora”.
Saída de Capello e chegada de Schuster: “Tínhamos muito mais confiança. Tínhamos deixado de fora pessoas como Roberto Carlos, Ronaldo… E chegaram Robben e Sneijder… Começamos a jogar com jovens de alto nível. O time jogou muito bem, Schuster lidou com isso de forma muito calma. Capello tinha mais disciplina, mais do sistema italiano. Schuster nos dava mais tranquilidade na vida fora do futebol: menos regras, música no vestiário… As pessoas estavam mais relaxadas. Sempre lembrarei com grande felicidade das ligas que venci”.
Referências como treinador: “Tive a sorte de ter muitos treinadores e poder tirar algo de cada um. Às vezes sou muito exigente como Capello, porque gosto de disciplina, ordem e que uma equipe dê tudo em campo. Mas como Schuster, eu também deixo os jogadores viverem melhor no vestiário. Schuster me tratou muito bem: ele me deu dois ou três jogos e me deixou descansar, ele me deixou em casa. Eu peguei coisas boas dos dois e tirei o mal”.
O período de glória madridista da última década: “A Champions League de Ancelotti foi uma surpresa, porque ninguém esperava. O trabalho de Zidane é impressionante e isso nunca mais será visto na Champions. As pessoas não acreditaram no Zidane do Castilla. Eles disseram que ele não poderia treinar o primeiro time. Todos nós temos que agradecer a Zidane por cuidar do vestiário do Real Madrid como ninguém até agora. Nos momentos mais difíceis, ele sempre escolheu bem”.
Foto destacada: AFP/Vanderlei Almeida