O título da Liga dos Campeões 2021/2022 foi muito merecido pelo Real Madrid, mas criou uma ilusão para quem assistia os merengues erguerem a taça da competição pela décima quarta vez.
A campanha do Madrid foi tão histórica, que embaçou uma série de problemas que aquele time tinha e ainda tem. O Real Madrid não tinha um time para ganhar aquela Champions, e continuou não tendo para essa edição da competição.
Na última conquista, o time contou com muito mais resiliência, garra e até seu famoso misticismo para ser campeão, mas não contou com o melhor futebol da Liga dos Campeões. Talvez tenha contado com o mais decisivo e aguerrido. Mas a orelhuda a caminho de Valdebebas inflamou os torcedores, que colocaram naquele time cheio de limitações uma expectativa muito além da que podia se cumprir.
Olhando objetivamente para aquela temporada de Champions, o Real Madrid sofreu. E como sofreu. Era um time que levava muitos gols: foram 12 entre as oitavas de final e a decisão, somando 7 jogos. Além disso, o Madrid era facilmente dominado pelos adversários, precisando se esforçar em dobro para conseguir um resultado favorável.
A cegueira de um pós título não deixou com que muitos enxergassem no Real Madrid a falta de consistência defensiva, principalmente nas laterais. Mendy fez jogos espetaculares, e outras vezes cometeu erros que tiveram consequências. Carvajal já não é mais nenhum garoto e segue sem um substituto confiável. As soluções de Ancelotti não eram bem soluções, mas alternativas que, felizmente para os merengues, naquele momento deram certo: Valverde, Lucas Vazquez e Nacho.
Já o meio campo de 2022 contava com um certo camisa 14, que ainda desfilava sua segurança em campo vestido de branco. O Real Madrid se atentou à queda de rendimento de Kroos e Modric e se movimentou: àquela altura tinham Camavinga e agora, também Tchouaméni.
Esses, dois garotos, que ainda serão garotos por um tempo e não há o que fazer a não ser dar espaço e ter paciência para que alcancem um nível de técnica e confiança condizentes com o clube em que atuam. Não seria em uma temporada que isso aconteceria.
O Real Madrid de hoje oscila entre ter muita técnica e cada vez menos vitalidade com seus veteranos e ter muita vitalidade e uma técnica em ascensão com os jovens em seu meio campo.
No ataque, o time encontrou sua mina de ouro: Benzema e Vini Jr. imparáveis e um Rodrygo que desequilibrava. Pode-se dizer que o Real Madrid seguiu a lógica básica do futebol naquela UCL: fazer mais gols do que tomava.
Mas isso só parecia funcionar com o time em desvantagem, as partidas sempre sendo resolvidas com o ataque esmagador que dava certo por 15 minutos e matava o jogo. E claro que isso é do futebol e completamente admirável. Mas o futebol é, também, 90 e até 180 minutos (ou mais).
Na volta da semifinal dessa temporada contra o Manchester City, os merengues não encontraram seus 15 minutos. Ou mesmo seus 90. Sinceramente não duvido de que ao final do primeiro tempo, grande parcela dos torcedores tenha buscado Rodrygo com os olhos na TV ou no estádio e colocado nos ombros de um garoto a responsabilidade de uma reação.
O Real Madrid com limitações é o verdadeiro cenário do Real Madrid. É o time que foi eliminado da UCL e que está em 3° em La Liga. A ilusão de “time imbatível” não foi criada pelos jogadores ou pelo clube, foi criada no brilho da taça de 2022 refletido no olhar de cada torcedor e espectador.