O Real Madrid começou desligado do jogo, mas “acordou” no segundo tempo e conseguiu a virada na prorrogação
O Real Madrid recebeu o Atlético de Madrid nesta quinta-feira (26) em um confronto válido pelas quartas de final da Copa do Rei e venceu por 3 a 1. Em um jogo amarrado, os donos da casa fizeram um péssimo primeiro tempo e viram os rivais abrirem o placar. O segundo tempo, porém, foi uma virada de chave para o Real Madrid, que mudou totalmente a postura. Com muito mais proatividade, os merengues sufocaram o Atlético e conseguiram o empate com um golaço de Rodrygo. A virada viria apenas na prorrogação, com Benzema, logo depois do Atlético ter um jogador expulso. Os colchoneros ensaiaram uma reação, mas Vinícius Júnior matou o jogo no apagar das luzes e fechou o placar em 3 a 1. Assim, o Real Madrid se classificou para as semifinais da Copa do Rei. Os merengues podem enfrentar Osasuna, Athletic Bilbao ou Barcelona na próxima fase.
O jogo foi marcado por muitas polêmicas fora de campo. A cidade de Madri acordou com uma manifestação de ódio da torcida do Atlético. Os torcedores colchoneros penduraram em uma ponte da capital espanhola um boneco com a camisa de Vinícius Júnior, simulando um enforcamento, logo abaixo de uma placa que dizia: “Madri odeia o Real”. Esse foi mais um lamentável capítulo dos inúmeros casos de racismo que Vinícius vem sofrendo nos últimos meses. Frente a isso, o estádio Santiago Bernabéu começou a entoar cantos apoiando Vinícius Júnior no minuto 20 (número da camisa do brasileiro).
Escalações
O Real Madrid pensava que poderia contar com Alaba, que figurou na lista dos relacionados após um período afastado por lesão, mas um desconforto antes do jogo acabou tirando o austríaco das opções de Ancelotti. Assim, o Real Madrid foi a campo com Courtois no gol e uma dupla de zaga formada por Militão e Rüdiger. Na lateral direita, Nacho continuou substituindo o lesionado Carvajal, e Mendy foi o titular pela esquerda. O meio de campo contava com Camavinga, Kroos e Modric, com Valverde atuando como meia-direita. Por fim, Vinícius Júnior acompanhava Benzema no ataque.
O Atlético de Madrid, por sua vez, não tinha desfalques para a partida e mandou a campo seu time ideal. Oblak foi o titular no gol, Molina e Reinildo começaram nas laterais e Hermoso e Savic compunham o centro da defesa. O quarteto de meio de campo tinha Koke, Griezmann, Lemar e Rodrigo de Paul. Por fim, Simeone escalou uma dupla de ataque com Morata e Ángel Correa.
Táticas iniciais
O Real Madrid, como de costume, partia de um 4-3-3 para seu ataque funcional. A ideia de Ancelotti era aglomerar jogadores pelo lado esquerdo do campo e dar muita liberdade de movimentação a eles. O trio de meio-campistas se “partia” em dois: Kroos e Camavinga ficavam mais recuados e, assim, atuavam como uma dupla de volante. Enquanto isso, Modric tinha mais liberdade para atuar no campo ofensivo. Valverde começava como meia-direita e tinha dois comportamentos principais: ele podia atacar o flanco direito ou encostar nos jogadores aglomerados pelo lado esquerdo para construir as jogadas. Vinícius Júnior começava bem aberto e espetado, variando com Mendy a função de atacar por dentro ou por fora. Nacho, por sua vez, ficava mais isolado pelo lado direito, pronto para ser acionado em uma inversão.
O Atlético de Madrid se defendia em um 4-4-2, mas mudava radicalmente sua estrutura ao ter a bola. Reinildo, zagueiro de origem, saía da lateral para formar um trio de zaga com Savic e Hermoso. Molina, no entanto, tinha um comportamento praticamente oposto: quando o Atlético tinha a bola, o argentino se lançava ao ataque como um ponta. Koke e de Paul eram uma dupla de volantes clássica: faziam a saída de bola mais próximos dos zagueiros e armavam o time em posições mais recuadas. Lemar, o meia-esquerda, ficava bem aberto na ponta, enquanto Ángel Correa centralizava mais para abrir o lado do campo para Molina. Por fim, Griezmann era um “todocampista”: o francês era o regista do time do Atlético de Madrid e circulava livremente entre os volantes e atacantes. Assim, o Atlético de Madrid atuava em um 3-4-1-2.
Jogo começa equilibrado, mas Atlético sai na frente
A partida começou equilibrada: ambos os times conseguiam construir bem suas jogadas e chegar ao ataque, mas nenhum conseguiu finalizar nos primeiros 5 minutos. O Real Madrid apostava na pausa para controlar o ritmo do jogo e dominar o Atlético de Madrid, esperando o momento certo para acelerar com Vinícius Júnior ou Valverde. Os visitantes, com menos posse de bola, não forçavam contragolpes a todo momento e preferiam trabalhar um pouco mais as jogadas através de Antoine Griezmann. O equilíbrio se manteve até os 20 minutos do primeiro tempo. O Real Madrid tinha mais posse e controlava mais o ritmo do jogo, mas o Atlético de Madrid chegava ao ataque mais facilmente.
O Real Madrid foi quem teve a primeira boa chance do jogo: por volta dos 10 minutos, Vinícius Júnior roubou a bola no meio de campo e carregou-a até a entrada da área. O brasileiro passou para Benzema, que devolveu para Vinícius que estava na cara do gol. No entanto, ele tentou dominar a bola antes de chutar e a defesa do Atlético de Madrid alcançou-o.
Apesar disso, foi o Atlético de Madrid quem saiu na frente. Por volta dos 20 minutos do primeiro tempo, Griezmann recuou uma bola para Koke que estava livre na entrada da área. Assim, o espanhol teve tempo para fazer um belo lançamento para Molina, que atacava as costas da defesa do Real Madrid. O lateral escorou a bola de primeira para Morata, que entrava livre na área, para desviar a bola contra o gol aberto e abrir o placar.
Real Madrid tem a posse, mas não leva perigo
Os minutos que seguiram o gol mostraram um Real Madrid que ficava ainda mais com a bola e um Atlético que tentava acelerar mais as jogadas. Por volta dos 30 minutos, cada time conseguiu uma boa chance: em uma cobrança de falta de Toni Kroos, Oblak não alcançou a bola e ela quase acertou o gol, mas Militão perdeu o tempo da jogada e chegou atrasado, desviando a bola para fora. Pouco depois, o Atlético repetiu a jogada do primeiro gol, mas pelo lado esquerdo: Lemar foi lançado nas costas da defesa e escorou para Morata que invadia a área, mas o atacante espanhol chegou um pouco atrasado e não alcançou a bola.
Com o passar do tempo, a posse de bola do Real Madrid parecia infértil. O time conseguia levar a jogada até o meio de campo, mas tinha dificuldades em entrar no terço final do campo. O Atlético de Madrid, por sua vez, não fazia questão de ter a bola o tempo todo, mas trabalhava bem suas jogadas quando a tinha e sabia acelerar ao ver as vulnerabilidades do Real Madrid na defesa.
Perto dos 40 minutos, Mendy sentiu fisicamente depois de uma dividida e teve que ser substituído. Assim, Ancelotti colocou Camavinga na lateral-esquerda e pôs Dani Ceballos em campo no lugar de Mendy. Desse modo, Kroos passou a ser o primeiro volante, com Modric e Ceballos à frente.
O primeiro tempo terminou com um cenário bem claro: o Real Madrid tinha a bola (55% da posse era do time da casa), mas levava muito menos perigo que o Atlético. Além disso, a defesa merengue continuava com seus problemas crônicos, e o Atlético de Madrid poderia ter saído para o intervalo com um 2 a 0 sem muito esforço.
Real Madrid “acorda” no segundo tempo
Os times voltaram para o segundo tempo sem substituições, mas com um cenário ligeiramente diferente. O Real Madrid mostrava uma posse de bola muito mais dinâmica e bem trabalhada, e praticamente não perdeu-a nos primeiros 5 minutos da segunda etapa. Os merengues teriam uma boa chance logo nos primeiros minutos, quando Camavinga e Vinícius tabelaram e o francês cruzou para Benzema, que tentou um voleio mas acabou pegando mal na bola. Pouco depois, uma longa sequência de passes do Real Madrid levou a uma bela jogada entre Vinícius Júnior, Ceballos e Benzema. Assim, Ceballos conseguiu inverter a bola para Nacho, que cruzou para a área. Valverde, dentro da área, conseguiu desviar a bola de letra, mas ela passou rente à trave esquerda do gol do Atlético de Madrid.
O alto ritmo do Real Madrid ficava claro: dentro dos primeiros 10 minutos do segundo tempo, os merengues tinham 90% da posse de bola, finalizaram duas vezes e conseguiram um escanteio. Além disso, as jogadas do Real Madrid eram mais dinâmicas, tinham mais ritmo e levavam muito mais perigo do que as do primeiro tempo. Assim, os donos da casa apresentaram uma clara melhora no rendimento depois do intervalo. A proatividade do Real Madrid “sufocava” o Atlético, que agora focava seu jogo apenas em contragolpes.
Alterações de Ancelotti e golaço de empate do Real Madrid
Por volta dos 25 minutos do segundo tempo, Ancelotti tirou Valverde e colocou Rodrygo, e logo depois tirou Kroos para colocar Asensio. O Atlético de Madrid também fez suas alterações: Simeone tirou Lemar e Ángel Correa para colocar Carrasco e o recém-chegado Depay. Além disso, logo antes das substituições foi o momento mais perigoso do Atlético de Madrid no jogo: em um contra-ataque, os visitantes conseguiram uma falta na entrada da área. Na cobrança, Griezmann exigiu uma bela defesa de Courtois. No escanteio que seguiu a cobrança da falta, o volante Witsel (que entrara no lugar de Morata) conseguiu uma boa chance ao desviar a bola de cabeça, mas mandou-a para fora.
As alterações de Ancelotti não demoraram a fazer efeito: pouco antes do relógio apontar os 30 minutos do segundo tempo, o Real Madrid continuava martelando o Atlético de Madrid, mas agora com ainda mais jogadores de ataque. Assim, Rodrygo recebeu a bola na faixa central do campo e carregou-a em direção ao gol. Na condução da bola, o brasileiro driblou 3 defensores do Atlético de Madrid, invadiu a área e deu um toque sutil para bater Oblak e marcar um golaço que empatava o placar.
O Real Madrid, na reta final do jogo, continuava ocupando o campo de ataque e martelando o Atlético, que se limitava a contra-atacar os donos da casa ao aproveitar os espaços deixados nas costas da defesa. Assim, o segundo tempo se mostrava muito mais dinâmico que o primeiro: o Real Madrid finalizou 13 vezes e o Atlético finalizou 4 na segunda etapa, enquanto ambos os times finalizaram apenas duas vezes na primeira. Apesar disso, o jogo não saiu do 1 a 1 no tempo normal e acabou indo para a prorrogação.
Real Madrid vira na prorrogação
Antes da volta para a prorrogação, Simeone tirou Griezmann para colocar o jovem Pablo Barrios, de apenas 19 anos, em campo. Ancelotti, por sua vez, não realizou nenhuma alteração, mesmo tendo 3 disponíveis.
A prorrogação manteve a dinâmica do segundo tempo: o Real Madrid continuava sendo o dono da posse, enquanto o Atlético de Madrid ficava retraído em seu próprio campo esperando pelo momento certo para contra-atacar. No entanto, o aspecto físico começava a afetar o Real Madrid, que não circulava a bola tão rapidamente e não mantinha o ritmo de antes. Mesmo assim, os merengues tinham muito sucesso em empurrar seu adversário contra o próprio gol, que esporadicamente tentavam sair em contragolpes.
Aos 8 minutos do primeiro tempo da prorrogação, o Atlético de Madrid acabou recebendo uma péssima notícia: logo depois de ter recebido um cartão por uma discussão com Vinícius Júnior, o zagueiro Savic recebeu seu segundo cartão amarelo depois de fazer uma falta dura em Camavinga, que se lançava pela ponta-esquerda. Assim, o Atlético de Madrid disputaria praticamente 20 minutos de jogo com um homem a menos. Além disso, Simeone não poderia colocar outro zagueiro em campo para suprir a perda de Savic, já que ele já tinha feito as 5 substituições disponíveis do tempo normal e a substituição extra da prorrogação.
Com um jogador a menos, o Atlético tinha ainda mais dificuldades em fechar todos os espaços do campo. O Real Madrid em seu ataque funcional circulava livremente pelo terço final, apresentando muitas movimentações e trocas de posição: nenhum jogador tinha posição marcada, tirando as referências dos defensores do Atlético de Madrid. Foi a partir disso que, em uma longa sequência de posse do Real Madrid, a bola chegou até a ponta direita. Assim, Nacho e Asensio tabelaram e o atacante espanhol conseguiu espaço para cruzar para a área. Vinícius e Rodrygo tentaram chegar na bola, mas ambos acabaram furando e ela acabou sobrando para Benzema, que bateu de primeira e virou o placar para o Real Madrid aos 103 minutos de jogo.
Segundo tempo da prorrogação
O Atlético de Madrid começou o segundo tempo da prorrogação mais proativo, se lançando ao ataque para tentar empatar o jogo. Apesar da mudança de postura do rival, o Real Madrid continuou apostando em seu jogo e manteve a ideia de controlar o ritmo do jogo a partir da posse, com muita calma e pausa ao ter a bola. Assim, o Real Madrid tinha dificuldades em passar do meio de campo, mas não se desesperava ao ver o Atlético de Madrid se lançando ao ataque.
Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Ancelotti tirou Nacho para colocar Odriozola, e tirou Rodrygo (que mostrava problemas físicos) para colocar Mario Martín, meio-campista do Castilla. A prorrogação seguiu com um Atlético mais agressivo e um Real Madrid que tentava pausar o ritmo do jogo quando tinha a bola, esfriando a postura agressiva dos rivais. Já nos acréscimos da prorrogação, os donos da casa conseguiram matar o jogo. Em um ataque colchonero, Ceballos interceptou um passe e acionou Vinícius pela ponta esquerda. O brasileiro aproveitou o espaço que o Atlético de Madrid deixava ao atacar e ao ter um homem a menos. Assim, Vinícius carregou a bola até a área, cortou um defensor colchonero e marcou o gol que matou a partida.
Ficha técnica
Real Madrid 3×1 Atlético de Madrid
Data: 26 de janeiro de 2023
Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madri (ESP)
Competição: Copa do Rei, quartas de final
Gols: Rodrygo 79′, Benzema 103′, Vinícius 120+1′ | Morata 19′
Real Madrid: Courtois; Nacho (Odriozola), Militão, Rüdiger, Mendy (Ceballos); Camavinga, Kroos, Modric, Valverde (Rodrygo/Mario Martín); Vinícius Júnior e Benzema. Treinador: Carlo Ancelotti.
Atlético de Madrid: Oblak; Molina, Savic, Hermoso, Reinildo; Koke (Kondogbia), Lemar (Carrasco), de Paul (Saúl), Griezmann (Barrios); Ángel Correa (Depay) e Morata (Witsel). Treinador: Diego Simeone.
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