Com um primeiro tempo seguro e um segundo tempo descontrolado, a Alemanha venceu a Costa Rica, mas acabou eliminada no saldo de gols
A Alemanha enfrentou a Costa Rica pela terceira rodada da fase de grupos nesta quinta-feira (1) e venceu por 4 a 2, mas acabou eliminada. Apesar da vitória, a derrota da Espanha para o Japão por 2 a 1 deixou Espanha e Alemanha empatadas em pontos. No entanto, a goleada espanhola sobre a Costa Rica na primeira rodada deu aos hispânicos a vantagem no saldo de gols, assegurando-os a segunda colocação do grupo.
O jogo, marcado por ser o primeiro da história das Copas do Mundo masculina a ser apitado por mulheres, foi marcado por um primeiro tempo de controle alemão e um segundo tempo descontrolado. O gol de Gnabry logo aos 10 minutos de jogo pareceu dar à Alemanha o conforto que precisava para praticar seu jogo. No entanto, a Alemanha voltou a ter problemas em converter chances de gol e o 1 a 0 continuou no placar até o intervalo. A vantagem alemã magra convidou a Costa Rica a atacar e, em cerca 10 minutos, virar o placar no segundo tempo. No entanto, a força ofensiva da Alemanha reverteu a vantagem, eliminando os costarriquenhos. Apesar de fazer 4 gols, a Alemanha não conseguiu superar a Espanha no saldo e foi eliminada da Copa do Mundo.
Escalações
A Alemanha continuou com problemas ao compor sua linha defensiva e, por isso, Hansi Flick fez mais uma mudança na escalação inicial. Neuer começou no gol mais uma vez, com Süle e Rüdiger formando a dupla de zaga e David Raum pela lateral-esquerda. A novidade foi pela lateral-direita: com os problemas físicos de Klostermann e as atuações pouco convincentes dos zagueiros Süle e Kehrer na posição, Kimmich voltou à sua posição de origem e foi escalado na lateral-direita. O jogador do Bayern começou a carreira jogando na lateral, mas acabou se consolidando como volante. Desse modo, sem Kimmich no meio de campo, Goretzka e Gündoğan formaram dupla de volantes. Gnabry, Musiala e Sané formavam o trio de meias e Müller comandava o ataque. Assim, todos os 7 jogadores do Bayern de Munique convocados pela Alemanha foram titulares.
A Costa Rica, por sua vez, também apresentou algumas mudanças em relação ao time escalado na segunda rodada. O ex-Real Madrid Keylor Navas continuou como titular indiscutível no gol. As alterações começavam no trio de zaga, já que Francisco Calvo, suspenso, não pôde jogar e deu lugar para Juan Pablo Vargas compor a zaga com Oscar Duarte e Waston. Nas alas, Fuller e Oviedo mantiveram seus lugares nos 11 iniciais, assim como os volantes Borges e Tejeda. No ataque, apenas Joel Campbell voltou a ser titular, com Aguilera e Venegas como novidades em relação à segunda rodada.
Táticas iniciais
O jogo se desenhava como um clássico ataque contra defesa. A Costa Rica entrou em campo focada apenas em se proteger e, esporadicamente, desenhar alguns contra-ataques que aproveitassem a exposição da linha de defesa da Alemanha, que jogava alta e frequentemente desprotegida. Para isso, a Costa Rica foi a campo em um 5-4-1 muito compacto, com 9 jogadores entre a área e a intermediária defensiva e apenas Venegas mais a frente, solto para tentar puxar os contragolpes.
A Alemanha, por sua vez, sabia que sua sobrevivência na Copa do Mundo dependia de uma vitória contra a Costa Rica e, por isso, se lançou ao ataque. Flick abriu mão de uma estrutura de 3 zagueiros ao atacar, normalmente usada quando Klostermann atua na lateral-direita. Com Kimmich, a Alemanha tinha um lateral mais construtor, que se juntava aos meias para construir as jogadas. Pela esquerda, Raum manteve seu comportamento tradicional de atacar o lado do campo como um ponta.
Com Kimmich na lateral, Gündoğan era o principal construtor do meio de campo. Assim, o volante do City ficava mais recuado, perto dos zagueiros, responsável pela saída de bola e pela armação do time mais de traz. Goretzka era um infiltrador, que saía da linha dos volantes para se tornar um atacante a mais.
No ataque, Flick optou por deixar Füllkrug no banco e ir a campo com peças mais móveis. Pelos lados, Sané e Gnabry eram pontas mais clássicos, que se revezavam com os laterais ao atacar por dentro ou por fora. Por dentro, Müller e Musiala apresentava mais movimentação, tirando as referências dos zagueiros costarriquenhos.
Primeira meia hora de “monólogo” alemão
A Alemanha conseguiu dar trabalho para Navas logo aos 2 minutos de jogo. O time de Flick saiu jogando desde Neuer e achou um espaço na defesa costarriquenha para acionar Musiala, que cortou para dentro e bateu de fora da área, forçando uma boa defesa do goleiro. Dois minutos depois, Musiala aproveitou uma falha do ala Fuller e deu um belo passe para Gnabry, que entrou na área livre e forçou outra boa defesa de Navas. No entanto, a bandeirinha assinalou impedimento. O cenário ataque contra defesa se mostrava logo cedo no jogo, com a Alemanha bombardeando a área da Costa Rica, que se fechava em seu 5-4-1.
A Costa Rica não conseguiu segurar o ataque alemão por muito tempo, e aos 10 minutos de jogo o 0 a 0 saiu do placar. Com uma bela jogada por dentro, Musiala acionou Raum pela ponta-esquerda com bastante liberdade. O lateral fez um belo cruzamento para Gnabry invadir a área e subir sozinho para cabecear a bola e marcar o primeiro gol da Alemanha.
O domínio da Alemanha era indiscutível. Por volta dos 30 minutos de jogo, a Mannschaft tinha 70% da posse de bola, 6 escanteios e 6 finalizações, sendo 3 delas no alvo. Além disso, a equipe de Flick demorava, em média, 14 segundos para recuperar a posse de bola. Assim, além de dominar o jogo ofensivamente, a Alemanha também pouco sofria defensivamente, já que sufocava os contragolpes costarriquenhos com facilidade. Desse modo, a Costa Rica não conseguiu finalizar durante a primeira meia hora de jogo, além de não ter nenhum escanteio a favor.
Vantagem magra deixa Alemanha desconfortável
Com a Alemanha atacando com cerca de 7 jogadores, a Costa Rica tinha dificuldades em marcar os deslocamentos de jogadores que atacavam a área em diagonal, partindo de posições mais recuadas para aproveitar os cruzamentos e lançamentos dos jogadores mais abertos, como Sané, Musiala, Raum e Kimmich. As infiltrações dos jogadores ofensivos, principalmente de Goretzka, Müller e Gnabry, ofereciam muito perigo. Apesar disso, o volume ofensivo alemão não se convertia no placar, que continuava 1 a 0. Assim, mesmo sofrendo muito defensivamente, a Costa Rica continuava viva no jogo.
A primeira chance ofensiva da Costa Rica no jogo se desenrolou por volta dos 41 minutos. O time iniciou a saída de bola e, ao ver o ala Fuller atacando a linha defensiva alta da Alemanha, o zagueiro Duarte fez um belo lançamento para acionar seu companheiro. Raum tentou cortar o passe, mas acabou falhando, deixando Rüdiger no mano a mano contra Fuller. O zagueiro do Real Madrid também falhou e Neuer teve que fazer uma grande defesa para manter a vantagem da Alemanha no placar. Pouco depois, Süle falhou ao cortar um cruzamento e o atacante Venegas quase alcançou a bola.
Desse modo, o cenário do jogo era claro. A Alemanha continuava dominando, terminando o primeiro tempo com 70% da posse de bola, 12 chutes (4 no alvo), 3 grandes chances criadas e 1,23 gols esperados. No entanto, a Mannschaft tinha dificuldade em converter suas chances de gol, e o placar magro convidava a Costa Rica a tentar alguns contragolpes que aproveitassem a defesa exposta da Alemanha. O time de Flick saiu para o intervalo com a vantagem no placar, mas com o fantasma da virada do Japão os assombrando.
Alemanha volta com substituições questionáveis
A Alemanha voltou para o segundo tempo sem Goretzka, que saiu para a entrada de Klostermann. Assim, Kimmich saiu da lateral-direita e voltou ao meio de campo, sua posição preferida. Com essa mudança, a Alemanha ganhava em capacidade de distribuição na linha dos volantes e em velocidade de recomposição da linha defensiva, mas perdia em pegada de marcação e intensidade no meio de campo. Desse modo, a Costa Rica poderia encontrar mais espaço para contragolpes, já que Goretzka era muito importante na hora de pressionar e sufocar os jogadores costarriquenhos.
Klostermann não entrou para atuar como um terceiro zagueiro como na maior parte do ciclo, mas sim como um lateral mais clássico e ofensivo. Apesar de não jogar tão avançado quanto Raum, Klostermann atacava bastante e jogava mais por fora, liberando Sané para atuar por dentro.
Já no começo do segundo tempo, Flick resolveu lançar o time para o ataque de uma vez, ainda mais com a notícia da virada do Japão sobre a Espanha, que eliminava a Alemanha da Copa. Para isso, o treinador tirou Gündoğan para a entrada do centroavante Füllkrug. Assim, o time ficava ainda mais ofensivo, mas perdia completamente seu meio de campo. Kimmich se tornou o único volante em campo, com apenas Musiala como outro meio-campista. Todos os outros jogadores do meio para frente da Alemanha eram atacantes, deixando a linha de ataque povoada e o meio de campo vazio.
Costa Rica aproveita os espaços para virar
Os problemas das substituições de Flick logo ficaram claros. A Alemanha, para povoar seu ataque e ocupar a linha defensiva da Costa Rica, abriu mão de todo o seu meio de campo, isolando Kimmich e expondo ainda mais os zagueiros do time. Assim, além de perder capacidade de armar jogadas mais complexas, a Alemanha também perdia completamente sua capacidade de marcação e contra-pressão ao colocar muitos jogadores na frente da linha da bola e nenhum que ajudasse Kimmich na marcação à frente dos zagueiros.
A Costa Rica não demorou para explorar esses espaços e, com 20 minutos do segundo tempo, já tinha finalizado 3 vezes. A Alemanha, sentindo falta de uma maior capacidade de armação no meio de campo, não conseguia construir jogadas mais elaboradas. Assim, ela se limitava a bombardear a área costarriquenha com cruzamentos e lançamentos para a linha de atacantes. Com 23 minutos, o cenário desenhado se concretizou: em um passe errado de Raum, a Costa Rica recuperou a bola e armou um contra-ataque extremamente veloz. A Alemanha não conseguiu sufocar a origem da jogada, deixando os jogadores costarriquenhos livres para atacar seu meio de campo vazio e sua defesa desprotegida. Campbell acabou na cara do gol e chutou em cima de Neuer. O goleiro acabou dando o rebote e o volante Tejeda apareceu de surpresa para empatar a partida.
O senso de urgência pós-gol da Costa Rica acordou os jogadores da Alemanha, que começaram a pressionar mais o adversário e produzir mais chances, mas não seria recompensada antes de um susto costarriquenho: em uma jogada de bola parada, a Costa Rica alçou uma bola na área e, depois de uma atrapalhada da defesa alemã, conseguiu virar o jogo com uma cabeçada de Juan Pablo Vargas. A virada, além de deixar a Alemanha eliminada, também tirava a Espanha, que perdia para o Japão.
Alemanha vira, mas não é suficiente
Flick, já no desespero, tirou o lateral-esquerdo Raum para a entrada do meia Götze, além de tirar trocar Müller por Havertz. Assim, a Alemanha partia de vez para um 3-1-6, deixando Klostermann na linha dos zagueiros, Kimmich como volante solitário e uma linha muito móvel de seis jogadores de ataque.
A alegria costarriquenha durou pouco e, apenas 2 minutos depois do gol que classificava a Costa Rica para as oitavas de final da copa, Kimmich aproveitou um rebote e jogou a bola para dentro da área, Füllkrug desviou e a bola sobrou para Havertz, sozinho, empatar a partida. O segundo gol alemão deu aos jogadores a energia que faltou na primeira metade do segundo tempo e, a partir dos 30 minutos, a Alemanha voltou a produzir chances de gol com a frequência do primeiro tempo. A mudança de postura seria recompensada mais uma vez com Havertz: 10 minutos depois do primeiro gol do atacante do Chelsea, a Alemanha conseguiu um contra-ataque, Gnabry foi acionado pela ponta-direita e fez um belo cruzamento para Havertz aparecer de surpresa na área e desviar a bola para devolver a vantagem no placar para a Alemanha.
Os minutos finais foram marcados por uma Alemanha desesperada, forçando um ataque atrás do outro para tentar aumentar seu saldo de gols não ser eliminada, e por uma Costa Rica acuada, que claramente sentiu o gol sofrido logo depois de conseguir a virada. A partir disso, a Alemanha chegou ao quarto gol em uma jogada de linha de fundo, quando Kimmich lançou Sané pela ponta esquerda. O jogador do Bayern apenas escorou para Füllkrug, vindo de trás, marcar seu segundo gol na Copa do Mundo.
O quarto gol alemão selou a eliminação da Costa Rica, mas não foi o suficiente para classificar a Alemanha. A derrota por 2 a 1 da Espanha para o Japão deixou a Alemanha empatada em pontos com os espanhóis. No entanto, a Seleção da Espanha superou a Alemanha no saldo de gols e se classificou, deixando os alemães fora do mata-mata pela segunda vez seguida.
Ficha técnica
Costa Rica 2×4 Alemanha
Data: 01 de dezembro de 2022, quinta-feira
Local: Al Bayt Stadium, Al Khor (QAT)
Gols: Tejeda 58′; Vargas 70′ | Gnabry 10′; Havertz 73′, 83′; Füllkrug 88′
Costa Rica: Navas; Fuller, Duarte, Waston, Vargas, Oviedo (Contrerar); Borges, Tejeda (Wilson); Aguilera, Venegas e Campbell. Treinador: Luis Fernando Suárez.
Alemanha: Neuer; Kimmich, Süle (Ginter), Rüdiger, Raum (Götze); Goretzka (Klostermann), Gündoğan (Füllkrug); Gnabry, Musiala, Sané; Müller (Havertz). Treinador: Hans-Dieter Flick.