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Alemanha joga bem, mas toma virada histórica do Japão

Após um belo primeiro tempo e uma segunda etapa intensa, a Seleção Alemã teve o jogo nas mãos, mas tomou a virada japonesa

A Seleção Alemã enfrentou o Japão na estreia da Copa do Mundo no Qatar nesta quarta-feira (23) e perdeu por 2 a 1. Os alemães demoraram um pouco a encontrar seu jogo, mas cresceram muito na segunda metade do primeiro tempo e dominaram completamente o adversário, abrindo o placar. O segundo tempo teve um Japão melhor, que ameaçava mais a Alemanha em velocidade e deixou o jogo mais intenso. Assim, com 2 gols em 10 minutos, os japoneses aproveitaram a falta de efetividade alemã na frente do gol e construíram a primeira vitória de virada da história do país em uma Copa do Mundo.

No entanto, o jogo também foi marcado por suas polêmicas fora de campo. A Alemanha entraria em campo com Neuer usando a braçadeira de capitão “One Love”, em apoio à comunidade LGBT que é fortemente discriminada no Qatar. A FIFA proibiu o protesto poucos dias antes do jogo, com pena para a federação e para os jogadores que participassem. Frente a isso, a Seleção Alemã posou para a foto oficial com a boca tapada, protestando contra a censura que a FIFA promoveu. A Federação de Futebol da Alemanha se pronunciou oficialmente, condenando a postura da FIFA e reforçando o protesto dos jogadores.

Seleção Alemã protesta contra censura aplicada pela FIFA. Foto: Reprodução/Imago Images

Escalações

A Alemanha foi a campo com algumas surpresas em sua escalação. Neuer, capitão e titular absoluto, foi o escolhido para começar no gol, sem novidades. Na defesa, a má condição física de Klostermann obrigou Flick a escalar Süle na lateral-direita. Desse modo, Rüdiger acabou ganhando a companhia de Nico Schlotterbeck no centro da zaga, e David Raum completava a linha defensiva pela lateral-esquerda. Kimmich começou como titular, mas ao lado de Gündoğan ao invés de Goretzka, como era o esperado. Como meias avançados, Gnabry e o jovem Musiala foram escolhidos para começarem mais abertos, com Müller por dentro. Por fim, Kai Havertz começou como o centroavante.

O Japão, por sua vez, também fez algumas mudanças em seu time base. Gonda, como esperado, foi o goleiro titular. Tomiyasu, zagueiro titular, não estava 100% fisicamente e acabou forçando a escalação de Itakura como titular ao lado de Yoshida na zaga. Nas laterais, Sakai e Nagatomo foram os escolhidos para começar. Endo foi o primeiro volante, com Tanaka a seu lado (substituindo o lesionado Morita) e Kamada mais a frente. Por fim, a linha ofensiva tinha Ito pelo lado direito, Maeda como centroavante e o ex-Real Madrid Takefusa Kubo pelo lado esquerdo. Minamino, ex-Liverpool e hoje no Mônaco, foi para o banco.

Táticas iniciais

Escalações e desenhos táticos dos times em campo.

A Alemanha saía jogando em uma estrutura de 3+2, com Süle, Rüdiger e Schlotterbeck a frente de Neuer e Kimmich e Gündoğan como dupla à frente dos zagueiros. O lateral esquerdo David Raum participava pouco dessa saída de bola, pois na maioria das vezes atacava como um ponta.

À medida que a Alemanha avançava em campo, toda a ofensividade do treinador Hansi Flick se mostrava. Süle virava de vez um zagueiro e compunha um trio com Rüdiger, que ficava como zagueiro central, e Schlotterbeck, que ficava pela esquerda. Os zagueiros dos lados avançavam mais para se comportarem como “volantes”, enquanto Rüdiger ficava mais atrás, distribuindo o jogo. Os volantes de ofício, Kimmich e Gündoğan, eram os principais distribuidores de jogo e faziam a bola rodar pelo campo ofensivo, tanto armando o jogo para os atacantes quando ajudando os zagueiros na saída de bola. Com o time no campo de ataque, um volante avançava e o outro ficava mais próximo do trio de zaga (normalmente Gündoğan era quem avançava, mas o papel várias vezes se invertia).

A linha ofensiva, no entanto, era o mais interessante. A Alemanha escalou 4 atacantes, mas atacava praticamente com 7. Os dois volantes participavam do ataque e, enquanto o mais recuado armava o jogo de trás, aquele que avançava se juntava aos atacantes. Raum, lateral esquerdo, virava um ponta no momento ofensivo. Gnabry ficava mais aberto pela direita, e Müller, Havertz e Musiala circulavam muito por dentro. Assim, a Alemanha atacava em um 3-1-6, com muita movimentação por dentro e ameaças velozes por fora.

Estrutura ofensiva da Alemanha

Jogo começa morno

O jogo começou equilibrado, com ambas as equipes mostrando suas estratégias. A Alemanha buscava elaborar mais as jogadas, trocando passes desde a saída de bola e tentando ocupar o campo de ataque com sua linha de atacantes. O Japão, no entanto, não se intimidou pela Alemanha e começou jogando com muita intensidade, marcando com uma linha alta, incomodando a saída de bola alemã e acelerando nas transições assim que recuperava a bola.

E foi assim que uma das principais fraquezas da Seleção Alemã foi exposta logo cedo. Com apenas 7 minutos de jogo, Gündoğan foi desarmado e o Japão rapidamente armou um contra-ataque. Como a Alemanha tinha vários jogadores no campo de ataque, os japoneses encontraram muito espaço nas costas da defesa e chegaram a marcar um gol com Maeda, mas o atacante estava impedido.

Os minutos seguintes foram marcados por uma Alemanha que começou a conseguir manter mais a posse de bola, sem ser incomodada pela marcação do Japão, mas sem conseguir furar o bloqueio japonês. Perto dos 20 minutos de jogo, a Alemanha tinha 84% da posse de bola, mas apenas uma finalização. A única boa chance alemã fora em um escanteio, quando Rüdiger subiu e cabeceou muito bem, mas mandou a bola para fora. Pouco depois, a Alemanha voltaria a levar perigo, mas em uma jogada de bola rolando. Raum foi acionado na ponta esquerda e cruzou rasteiro para a entrada da área. Gündoğan ajeitou para Havertz, que tentou chutar mas foi travado. No rebote, Kimmich chutou de fora da área e Gonda fez uma bela defesa. Gündoğan tentou ficar com o rebote, mas estava impedido.

Alemanha melhora e abre o placar

À medida que o primeiro tempo se desenrolava, a Alemanha se sentia mais confortável em campo. A marcação japonesa já não tinha a mesma efetividade do começo do jogo, e a Seleção Alemã ocupou o campo de ataque com mais facilidade. Além disso, o gegenpressing dos alemães (o mecanismo defensivo de pressionar o adversário assim que perde a bola; conhecido como perde-pressiona ou contrapressão no Brasil) começou a ser melhor executado, sufocando os contragolpes japoneses. Assim, a Alemanha começou a ameaçar mais a defesa adversária, além de sofrer menos defensivamente.

Assim, a Alemanha melhorou vertiginosamente a partir dos 20 minutos. A troca de posição dos atacantes começou a fluir mais, e Kimmich e Gündoğan começaram a distribuir o jogo de forma mais dinâmica. Desse modo, a Seleção Alemã trocava muitos passes no campo de ataque, rodando a bola com qualidade e velocidade.

A melhora da Alemanha dificultou ainda mais a marcação japonesa. Mesmo com um bloco defensivo bem definido, com os 4 defensores, os 3 meias e os 2 pontas voltando para marcar, a impressão era que o Japão sempre estava em um “cobertor curto”. A Seleção Alemã abria o campo com Gnabry pela direita e Raum pela esquerda, enquanto posicionava praticamente 5 jogadores por dentro. Desse modo, os japoneses tinham que se desdobrar para marcar tantos jogadores ofensivos, e sempre deixavam espaço em alguma faixa do campo.

Foi assim que a ALemanha conseguiu abrir o placar. Após uma rápida circulação de bola pelo meio de campo, Kimmich teve espaço para acionar Raum, sozinho, pela ponta esquerda. O lateral invadiu a área e Gonda saiu do gol para desarmá-lo, mas Raum conseguiu driblar o goleiro, que tentou alcançar o alemão e acabou cometendo o pênalti. Na cobrança, Gündoğan bateu no meio do gol e abriu o placar para os alemães.

Reta final do primeiro tempo com Alemanha muito superior

O Japão tentou desenhar uma reação depois do gol sofrido e conseguiu atacar com alguns contragolpes promissores, mas rapidamente foi sufocado pelo volume de jogo da Alemanha. Os alemães continuavam chegando ao campo de ataque com facilidade e trocando muitos passes ao aproximar os jogadores por dentro, enquanto mantinham a ameaça nas pontas com dois jogadores mais abertos.

Já nos acréscimos, a Alemanha quase teve sua dominância recompensada. Em mais uma jogada que desestabilizou o bloco defensivo japonês, Müller foi acionado pela ponta direita e cruzou para a área. O cruzamento saiu forte demais e a bola acabou sendo tirada de lá, mas Kimmich pegou o rebote e bateu da entrada da área. Gonda conseguiu fazer a defesa, mas a Gnabry acabou ficando com a bola e, do lado esquerdo da área, bateu para o gol. A bola iria para fora se não fosse por Havertz, que desviou o chute de Gnabry e marcou o gol, mas estava impedido e o gol foi anulado.

Mesmo sem sair para o intervalo com uma vantagem mais justa (já que o 1 a 0 pareceu barato para os japoneses depois do volume de jogo alemão na segunda metade do primeiro tempo), a superioridade da Alemanha era indiscutível. O time terminou o primeiro tempo com 81% da posse de bola e 14 finalizações, sendo 6 delas dentro da área. Por fim, a Seleção Alemã também apresentou um bom indicativo na estatística “gols esperados” (expected goals em inglês, ou xG), que aponta a probabilidade de um chute virar um gol. Os alemães ficaram com 1,68 xG, contra apenas 0,11 dos japoneses.

Volta para o segundo tempo

O Japão voltou para o segundo tempo com uma alteração: Takefusa Kubo, ex-Real Madrid, saiu para a entrada do zagueiro Tomiyasu. Assim, os japoneses passavam a se defender em um 5-2-3: com um terceiro zagueiro, a Seleção Japonesa buscava defender melhor as pontas sem abrir espaços por dentro, um problema frequente no primeiro tempo. A Alemanha, por sua vez, não realizou mudanças no intervalo.

O começo do segundo tempo continuou mostrando uma superioridade alemã, que mantinha 60% da posse de bola e conseguiu 2 finalizações em 10 minutos, mas o Japão voltou a mostrar perigo nos contragolpes, além de manter a bola por muito mais tempo. Desse modo, o Japão conseguia elaborar mais seus ataques e oferecer mais perigo. Moriyasu, treinador, realizou mais duas alterações com 11 minutos do segundo tempo, tirando Maeda e Nagatomo para colocar Asano e Mitoma.

No entanto, a entrada de um terceiro zagueiro não conseguiu estancar a sangria e a Alemanha continuou criando chances de gol, usando a mobilidade de seus atacantes para criar desencaixes no bloco defensivo japonês. A partir disso, Gündoğan chegou a chutar uma bola na trave aos 15 minutos do segundo tempo, desperdiçando a melhor chance alemã depois do intervalo. Assim, o jogo desenhava um cenário de “trocação”, com ambos os times conseguindo boas chances de gol. Esse cenário acabou consagrando Rüdiger, que era o principal zagueiro alemão nos combates contra os atacantes.

Mais substituições

Aos 20 minutos do segundo tempo, Hansi Flick realizou suas primeiras alterações no jogo. Gündoğan saiu para a entrada de Goretzka, enquanto Jonas Hoffman entrou no lugar de Thomas Müller. Desse modo, o estilo de jogo alemão sofria duas mudanças relevantes: com a saída de Gündoğan e a entrada de Goretzka, o meio de campo perdia em capacidade de distribuição, mas ganhava em capacidade de pressionar e de ocupar espaços. Assim, a Alemanha buscava frear as transições ofensivas japonesas com mais efetividade. Além disso, Hoffman entrou para jogar aberto pela direita, deixando Gnabry mais próximo de Havertz e Musiala por dentro.

Pouco depois das substituições, a Alemanha teve várias chances incríveis para ampliar sua vantagem, mas Gonda fez uma sequência sensacional de defesas e impediu o segundo gol alemão. Em um contra-ataque, Kimmich teve espaço para acionar Gnabry, que invadiu a área. O camisa 10 deixou a bola para Hoffman, que bateu para o gol, mas Gonda fez uma bela defesa. No rebote, Gnabry bateu de fora da área e Gonda defendeu mais uma vez. A bola sobrou para Musiala, que acionou Raum pela ponta. O lateral cruzou para a área e Gnabry, de cabeça, fez uma cabeçada de manual e mandou a bola no canto do gol, mas Gonda alcançou mais uma vez. No rebote, Gnabry finalizou mais uma vez, para a quarta defesa de Gonda em poucos segundos.

Reta final do segundo tempo e virada heroica do Japão

Com meia hora do segundo tempo, o Japão fez suas duas últimas alterações: Minamino e Doan entraram no lugar de Sakai e Tanaka. O efeito das substituições acabou sendo praticamente imediato: os japoneses continuavam ameaçando a Alemanha com jogadas em velocidade e contragolpes. Em um contra-ataque pela ponta-esquerda, o Japão conseguiu um chute cruzado de dentro da área. Neuer fez uma bela defesa, mas a bola sobrou para Doan, que tinha acabado de entrar, chutar contra o gol aberto e empatar a partida. Depois de tomar o empate, Flick tirou Musiala e Havertz para colocar em campo Götze e Füllkrug. Assim, a Alemanha ganhava mais presença de área para jogadas aéreas, principalmente através do atacante Füllkrug.

As substituições não surtiram efeito imediato, e a Alemanha acabou sofrendo o segundo gol menos de 5 minutos depois das entradas de Götze e Füllkrug. Em uma jogada de bola parada, o Japão aproveitou a linha alta alemã para acionar Asano nas costas dos zagueiros. Aqui, aconteceu a primeira falha defensiva alemã: Süle estava mal posicionado e dava condição para o atacante japoêns. Asano dominou a bola e levou para a área, venceu o duelo contra Schlotterbeck e, mesmo sem ângulo, bateu Neuer para marcar o gol da virada do Japão. Assim, Asano foi o responsável pela primeira vitória de virada da história do Japão em uma Copa do Mundo.

A Alemanha tentou o empate com muitas jogadas de bola na área, mas não conseguiu produzir muito mais que bolas jogadas na área para seus atacantes. Por fim, a Alemanha conseguiu ser superior dentro de campo, com mais de 74% de posse de bola, 26 finalizações e 3,53 gols esperados, mas a grande atuação de Gonda e a falta de efetividade dos alemães na frente do gol custaram a vitória, deixando a Alemanha em uma situação complicada no grupo.

Ficha técnica

Alemanha 1×2 Japão

Data: 23 de novembro de 2022
Local: Estádio Internacional Khalifa, Doha (QAT)
Gols: Gündoğan 33′ | Doan 74′; Asano 83′

Alemanha: Neuer; Süle, Rüdiger, Schlotterbeck, David Raum; Kimmich, Gündoğan (Goretzka); Gnabry (Moukoko), Müller (Hoffman), Musiala (Götze); Havertz (Füllkrug). Treinador: Hans-Dieter Flick.

Japão: Gonda; Sakai (Minamino), Itakura, Yoshida, Nagatomo (Mitoma); Endo, Tanaka (Doan), Kamada; Ito, Maeda (Asano) e Kubo (Tomiyasu). Treinador: Hajime Moriyasu.

1 comentário em “Alemanha joga bem, mas toma virada histórica do Japão”

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