Técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti saiu em defesa de Vinicius Jr. após ataques racistas sofridos pelo brasileiro em partida contra o Valencia no domingo (21)
Já são nove denúncias de ataques racistas apenas contra Vinicius Jr. nos últimos dois anos em estádios de futebol da Espanha. Dessa vez, porém, parece ter sido a gota d’água. Vini foi chamado de “macaco” por torcedores do Valencia em partida deste domingo (21) contra o Real Madrid. O jogo chegou a ser paralisado por mais de 10 minutos. O brasileiro foi expulso de campo depois de uma confusão generalizada em um lance após o reinício do jogo, no qual foi atacado de maneira agressiva por Mamardashvilli e sofreu uma gravata de Hugo Duro.
Na Espanha, por vezes, é usual dizer que Vinicius Jr. é um provocador e, por isso, é retaliado com ataques racistas. Essa relação, porém, não é de causa e consequência e Carlo Ancelotti sabe disso. O técnico do Real Madrid saiu em defesa do atacante brasileiro, afirmando que Vini é uma vítima e não o culpado pela perseguição criminosa que sofre.
“A verdade é que Vinícius é uma vítima, não é culpado. É uma vítima que, às vezes, passa por culpado pelas provocações, por sua atitude… que fique claro, Vinícius é a vítima de tudo isso”, apontou o treinador.
Ancelotti também fez questão de assegurar que os insultos racistas não se tratam de “casos isolados”, como afirmou o presidente de La Liga, Javier Tebas, após o episódio. O italiano ressaltou ainda que entende que há uma cultura de insultos no futebol espanhol, a qual condenou veementemente.
“As vítimas também são os torcedores que se comportam de forma impecável. Quando me refiro ao estádio do Mestalla, não me refiro a 46 mil pessoas. Me refiro a um grupo que se portou mal, como em Mallorca, Valladolid. Não falo apenas do racismo, que é o mais grave. Parece costume insultar. Porque temos o costume de, no futebol, o insulto ser normal? Me disseram depois da partida que não o dizia “macaco”. O dizia “macaco”, mas o dizia “tonto” também. Não é um insulto racial, mas é um insulto. Tem que parar isso. Estamos cansados de ser insultados todos os dias. Passa a muitos outros, atrás do banco acontece de tudo. Os dizem “filho da p***”, o dizem “v***”. Agora, temos uma grande oportunidade de parar isso”, pontuou Ancelotti.
Ancelotti garante a permanência de Vinicius Jr.
Muito se especula sobre a saída de Vinicius Jr. depois de mais um caso de racismo e a falta de ações concretas para combater esse crime por La Liga. Ancelotti, porém, garantiu que o brasileiro quer ficar.
“Eu acho que não (quer sair). Vinicius ama o futebol e ama o Real Madrid acima de tudo. Acho que não é o pensamento dele nesse momento. O amor pelo Real Madrid é muito grande, então quer fazer sua carreira e ter seu protagonismo aqui.
Mais trechos da coletiva de Ancelotti
Como está a equipe depois do que aconteceu? Estamos preocupados pelo que aconteceu, como todos. Todo mundo está preocupado. Está falando muito desse tema, o que é justo e correto. Pode ser uma oportunidade para melhorar as coisas rapidamente. Vinícius está um pouco triste. Ele não treinou porque teve dores no joelho. Estamos esperando a sanção que vai ter, mas isso é um outro debate. Preparar para a partida de amanhã com toda a gana possível.
Imagens do VAR: Eu acho que manipular imagens é muito grave, não sei se houve manipulação ou se esqueceram de mostrar as imagens. É claro que agrediram Vinícius, antes o goleiro e depois Hugo Duro. Se há uma agressão, tem que se defender. É isso que aconteceu. Eu acho que parar o jogo é uma boa solução. Acho que é um momento importante para tomar medidas drásticas. As instituições têm uma oportunidade, sobretudo nesse momento que o tema está quente, de tomar medidas importantes para melhorar a situação.
Perseguição a Vini: O que acontece eu não sei. Para mim, a Espanha não é racista, mas há racismo, ainda mais nos estádios de futebol. Nos últimos anos, Vinicius teve mais protagonismo. O veem como um inimigo, o que no esporte pode acontecer, o ver como um inimigo esportivo. Mas que isso se transforme nos insultos é outra coisa.
Protocolo de La Liga para casos de racismo: Se o protocolo está obsoleto, acho que sim. Se tem que aplicar o protocolo, tinha que aplicar quando chegou o ônibus ao estádio, porque foi aí que começaram os insultos. Tudo que dizem sobre Vini ser provocador, se acaba aí, porque começou quando chegamos ao estádio. Escutei uma entrevista de alguém de Valencia que disse que eram casos isolados, não eram. Não eram 46 mil, mas também não eram um ou dois. O protocolo tem que começar ai. Se começa a aplicá-lo ao minuto 70, está errado. O protocolo tem que ser aplicado antes da partida e durante a partida.
Providências a serem tomadas: Estou esperando para ver o que acontece. Tomara que aconteça algo. Estou preocupado. Estamos falando disso e é importante falar sobre isso. Queremos dar a volta a essa situação que é muito ruim para todos. Todos nós gostamos e amamos o futebol e esperamos que o futebol seja o mais limpo possível. Aqui miro a Federação e a La Liga, que isso se resolva.
Necessidade de ações concretas: Condenar não é suficiente. Condenar não é suficiente, começamos a condenar faz muito tempo. Depois de condenar, tem que atuar e ainda não houve atuação. Há países onde não te insultam. Na Inglaterra não te insultam. Acho que esse tema resolveram faz muito tempo, desde quando foram expulsos das competições europeias, aí tomaram medidas. Ali é verdade que há casos isolados de racismo. Tanto que nos jogos do campeonato inglês não há polícia. Aqui parece que vai para a guerra. Na Inglaterra, este tema foi resolvido muito antes tomando medidas drásticas, muito drásticas.
Como Vini está? Obviamente está muito triste, mas sabe que tem o apoio do mundo todo, não só do Real Madrid. Dos companheiros, dos rivais, de todos. Nesse sentido, está muito tranquilo.
Se arrepende de não ter tirado a equipe de campo? Eu pensei nisso. Falei com ele, perguntei se ele queria continuar e ele queria. Também o árbitro o pediu que continuasse, então o tema se acabou. Claro que isso é uma medida pessoal, individual, que, no momento, se pode tomar. Eu posso ter a responsabilidade de tirar um jogador de campo e, também, a equipe de campo. Mas não é minha responsabilidade. Tomara que eu não tenha que chegar a essa situação, porque não quero chegar nisso.
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