Em entrevista ao jornal francês La Voix du Nord, o ex-preparador físico de Zinedine Zidane, Grégory Dupont, discute sua passagem pelo Real Madrid, onda de lesões e relação com o elenco
Grégory Dupont, conhecido como “O Cientista” no meio do futebol, chegou ao Real Madrid na segunda passagem de Zidane. Com histórico excelente após preparar a a campeã mundial, a Seleção Francesa, Dupont chegou a Madri com o objetivo de solucionar os principais problemas do elenco, as lesões constantes.
Em sua primeira temporada, apesar das ondas de lesões e contratempos causados pela pandemia, seu trabalho foi extremamente fundamental no retorno blanco.
Segundo Dupont, os jogadores tiveram que mudar a maneira em que eles se mantinham em forma, para obterem assim o campeonato após a pausa. O esforço não foi desnecessário, pois a equipe conquistou o título com regularidade no elenco.
No entanto, o francês não esperava o que estava por vir em seguida. Na temporada 2020/21, as chamadas “ondas de lesões” se tornavam cada vez mais evidentes. Com a maioria do elenco no departamento médico, os métodos de Dupont começaram a ser questionados, sendo prontamente substituído por Antonio Pintus ao final da temporada.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Chamada ao Real Madrid: “Eu era muito bom, mas eu precisava chegar a um grande clube. Não estou dizendo que Lille não é, mas o Real Madrid. Na verdade, eu precisava de algo assim. Então, quando tive a chance, eu disse que sim. Eu só tinha o papel de preparador físico da primeira equipe. Na federação (francesa), eu tinha mais liberdade, funções diferentes. No Real Madrid tudo estava no lugar e você tinha que ficar na sua posição”.
Menos margem de erro? “Absolutamente, sabemos o que significa estar a serviço da instituição. É muito profissional, tudo é calculado, medido. A imagem é muito importante, a forma como nos posicionamos. Tudo é orquestrado”.
Relação com os franceses: “Conheci Eden em Lille, vi-o crescer. A relação era muito boa com todos, Raphaël (Varane) e Karim (Benzema), claro, Ferland Mendy”.
Como os treinadores experimentam críticas? “No Real Madrid, Zizou foi criticado e é Zizou! Ele ganhou três Ligas dos Campeões como treinador, ele tem sua carreira, seus títulos. Mas sim, os treinadores às vezes são afetados, depende das personalidades. O mesmo vale para os jogadores. Alguns dizem que não, mas isso os afeta. É principalmente por causa do feedback que eles têm, através de sua família, por exemplo”.
Zidane: “Zizou é muito exigente. Muitas vezes temos a imagem de um jogador muito talentoso, que facilita tudo, mas ele também é alguém que trabalha muito. Ele é um treinador muito exigente e muito respeitoso. Faz os jogadores trabalharem duro. Ele sempre procura fazê-los progredir. É interessante porque comparamos nossas experiências. Por exemplo, os jogos a cada três dias, é benéfico dormir sempre no hotel um dia antes do jogo”.
Benzema: “Karim é super profissional, muito rigoroso. Ele tenta otimizar tudo, trabalha muito, olha para tudo. Na verdade, no Real Madrid, todos estão treinados. Sergio Ramos, Lucas Vázquez, Raphaël Varane… Eden Hazard também eram assim. Alguns dizem confiar no talento dele. Talento é bom, mas não é mais suficiente”.
Imprensa espanhola
Efeito da mídia: “Levamos isso em conta. Em Madri, por exemplo, tudo isso é agravado. O que eu digo a um jogador em treinamento pode estar na imprensa. Concordamos com um jogador que ele deve trabalhar em sua recuperação, no dia seguinte, ele está na imprensa… É perturbador”.
Sentiu a pressão em Madri? “Se eu não lhes desse informações, eles transmitiriam coisas sobre mim. A única saída era não responder. Mas eles fizeram mesmo assim. E em um ponto, quando houveram lesões, foi tudo minha culpa. Até os resultados foram distorcidos colocando os positivos do COVID entre os lesionados…”.
Você se sentiu ‘acuado’ na capital espanhola? “Sim, assim como os atletas. Em Madri, os jogadores se vestem para sair pela cidade, nem que seja para ir ao cinema. Se eles estão em um nível muito alto é porque eles já passaram por muitas etapas. Eles conseguem lidar bem com isso de qualquer maneira. Eles sabem que nem eles nem nós, o pessoal, podemos controlar tudo isso. A única coisa que você pode controlar é não ser percebido. Hoje em dia alguns jornalistas escrevem tudo e qualquer coisa. E em Madri é realmente exacerbado, as coisas escritas são completamente falsas e não há muito o que fazer porque corrigir é dar importância“.