TRANSIÇÃO RÁPIDA E INCONSTÂNCIA DEFENSIVA, COMO JOGA O LIVERPOOL DE KLOPP?
Real Madrid e Liverpool se enfrentam nesta terça-feira (6) em partida de ida válida pelas quartas de final da UEFA Champions League. O jogo acontecerá no Alfredo Di Stefano, em Madrid, às 16h no horário de Brasília.
O confronto será uma reedição da última vez que o Real Madrid ergueu a taça mais cobiçada da Europa, em 2018, quando venceu o Liverpool por 3 a 1 e se consagrou campeão da Liga dos Campeões pela 13ª vez em sua história.
Naquela ocasião, o Real Madrid vinha de duas conquistas em sequência, enquanto o Liverpool tentava voltar a vencer depois de 13 anos. Apesar de um trio de ataque que vinha conquistando adeptos ao redor do mundo com Mané, Salah e Firmino colecionando gols na temporada, a equipe de Klopp ainda era inconsistente e colecionava placares elásticos, fazendo muitos gols mas também sofrendo bastante defensivamente.
Após o vice europeu, o Liverpool se consolidou como uma das melhores equipes do continente, vencendo a Liga dos Campeões do ano seguinte e, posteriormente, a tão esperada Premier League. A consolidação de Virgil Van Dijk na defesa e a chegada do Alisson, principalmente, resolveram um problema que há anos assombrava os Reds, que tinha uma defesa muito frágil.
Como chegam o Liverpool de Klopp para o confronto?
Apesar do sucesso recente do hexa campeão europeu, os Reds de Liverpool vivem uma temporada bastante irregular. Talvez a única equipe que tenha sofrido mais que o próprio Real Madrid com desfalques por lesão.
Se o grande problema defensivo da equipe se resolveu com as chegadas de Virgil Van Dijk e Alisson, nessa temporada, esse fantasma voltou a assombrar o Klopp. Com a saída de Lovren do clube, o Liverpool iniciou o campeonato inglês com apenas 3 zagueiros de ofício, e os 3 se lesionaram ainda no primeiro turno.
Esses desfalques obrigaram o treinador alemão a recuar seus meio campistas – Fabinho e Henderson – para a zaga, fazendo com o que o time perdesse intensidade e controle do meio de campo. Conhecido por seu jogo bastante intenso, o Liverpool se tornou irreconhecível, com um meio de campo bastante frágil, zagueiros expostos e um ataque pouquíssimo abastecido, sem criatividade e quase nenhuma efetividade.
Antes de se lesionar, Diogo Jota – recém chegado ao clube – se tornava o grande talismã da equipe, arrancando pontos difíceis na Premier League e ajudando o Liverpool a virar o ano na liderança da competição. Mas outra vez o Liverpool voltava a sofrer com lesões, e Diogo Jota ficou quase 3 meses afastado do campo, enquanto Fabinho também entrava para o time dos lesionados.
Sem opções para atuar na defesa além do jovem Rhys Williams da base e Nat Phillips – que estava emprestado e voltou ao clube – o Liverpool foi ao mercado e contratou Ben Davies – que se lesionou logo em seguida – e o turco Kabak – por empréstimo.
Klopp começou a mesclar suas peças para achar a dupla de zaga ideal, ainda utilizando o capitão Henderson como referência defensiva enquanto Fabinho se recuperava de lesão. Contudo, Henderson também se machucou e Kabak e Phillips tiveram que assumir a zaga. Fabinho se recuperou e voltou a time, mas diante da boa resposta dos defensores, o brasileiro retornou para a sua posição no meio de campo.
Entre altos e baixos, Liverpool vive seu melhor momento após tantos problemas
Kabak e Nat Phillips atuaram juntos nas últimas 4 partidas, e o Liverpool saiu ileso em todas elas. Apesar do Firmino ter se lesionado e perdido alguns jogos, Diogo Jota voltou a equipe e, claro, balançando as redes. Marcou na vitória por 1 a 0 contra os Wolves pela Premier League e 2 gols na vitória por 3 a 0 contra o Arsenal na última rodada da competição.
Além de ter estancado o sangramento na defesa com a dupla de zagueiros, a volta de Fabinho ao meio de campo se traduziu em recuperação da própria identidade da equipe. O Liverpool voltou a ter intensidade sem bola, Gini Wijnaldum – que vinha jogando fora de sua posição – retornou a parte do campo em que produz mais, enquanto Thiago passou a atuar mais próximo do ataque.
Durante algumas rodadas, a conquista da vaga para a próxima Liga dos Campeões pela Premier League parecia muito distante. Agora, a equipe divide atenções entre passar de fase na Champions e se aproximar do G4 do campeonato inglês, que tem o Chelsea em quarto colocado com apenas 2 pontos a mais que os Reds.
Como o time deve se projetar no confronto, como joga o Liverpool de Klopp?
Apesar de ter testado algumas variações nas últimas temporadas, flertando especialmente com o 4-2-3-1 ao tentar utilizar mais uma peça de ataque – antes com o Shaqiri e agora com Firmino e Jota – o esquema tático padrão do Liverpool de Jurgen Klopp é o 4-3-3.
Naturalmente, o Liverpool é uma equipe que procura ter a bola a todo instante, com um perde e pressiona muito eficiente, que sufoca o adversário e limita seu caminho em direção ao gol defendido por Alisson. Essa característica passa bastante por Fabinho e Henderson pelo meio de campo, mas com a ausência do capitão – lesionado – Thiago tem assumido protagonismo na função – apesar de ser bastante faltoso.
Na Champions League, porém, a postura do time têm sido mais cautelosa. Contra o RB Leipzig pelas oitavas, os ingleses muitas vezes abriram mão de ditar o ritmo de jogo, protegeram sua meta e foram fatais nos erros do adversário, vencendo os dois confrontos sem sofrer gols.
A nova dupla de zaga dos Reds conseguem proteger bem a área e estão menos expostos com Fabinho de volta ao meio de campo. Se o Arnold é conhecido como um lateral muito participativo em gols – coleciona números impressionantes de assistências para um lateral – defensivamente costuma ser mais frágil, mas muito bem protegido pela intensidade dos meio campistas do Liverpool e a imposição de Virgil Van Dijk. Sem o zagueiro e com o meio de campo muitas vezes remendado, o jovem lateral inglês encontrou dificuldades durante a temporada, apresentando um nível bem abaixo do futebol que conquistou o mundo. Por seu talento natural e a ausência de zagueiros construtores, Arnold passou a ser uma das principais alternativas do time para sair jogando, diminuindo sua frequência no campo de ataque. O lado positivo foi uma notável evolução do lateral na defesa. O camisa 66 dos reds voltou a jogar bem nas últimas partidas, alcançando maior equilíbrio defensivo e ofensivo, sem comprometer na marcação e voltando a assistir seus companheiros, foi dele o passe para o primeiro gol de Jota na última partida da equipe.
Possível escalação do Liverpool contra o Real Madrid
Com o Firmino recuperando o ritmo enquanto o Diogo Jota voltou efetivo no ataque – marcando 5 gols na última semana somando os jogos de seleção e pelo clube -, o Liverpool deve ser escalado com Alisson no gol, Arnold, Nat Phillips, Kabak e Robertson formando a primeira linha de 4, Thiago, Fabinho e Gini Wijnaldum pelo meio enquanto o trio de ataque deve ser protagonizado por Salah, Diogo Jota e Mané.
Apesar de terem sofrido bastante para fazer gols com os problemas que a equipe vem enfrentando na temporada, Salah briga pela artilharia da Premier League e já balançou as redes em 5 oportunidades na Champions League, 2 vezes contra o RB Leipzig nas oitavas.
Como o Real Madrid pode parar o Liverpool?
O grande desafio dos Reds na atual temporada têm sido criar oportunidades de gol contra equipes muito fechadas. Mesmo em partidas onde não jogou mal, o Liverpool deixou de somar pontos por ser pouco criativo ou efetivo quando encontrava as oportunidades.
Acostumado com Virgil Van Dijk e Gomez, que são zagueiros construtores, boa leitura de espaço e rápida recuperação no contra-ataque, o Liverpool – quando tem a bola – avança bastante suas linhas, deixando as costas da zaga bem expostas. Os zagueiros em campo, entretando, são Nat Phillips e Kabak. O primeiro tem um excelente tempo de bola e vai bem protegendo a área dos lançamentos e cruzamentos, além de conseguir se antecipar aos atacantes rivais interceptando as bolas esticadas pelo alto, mas com pés, seus pontos frágeis ficam expostos. Phillips tem dificuldade de defender a profundidade, e sofre com o 1 contra 1, o que é um prato cheio para o Vinicius Jr. Já o Kabak tem mais qualidade com os pés e vai bem saindo da pressão com passes curtos, mas pela falta de experiência, por vezes toma decisões erradas e se atrapalha quando tenta se antecipar.
Benzema e Modric são excelentes pressionando a saída de bola dos adversários – inclusive o camisa 9 madridista marcou assim na final de Kiev ao pressionar o goleiro Karius na reposição – e devem incomodar bastante a pouco experiente e se acostumando a jogar junto dupla de zagueiros do Liverpool.
Se o Real Madrid tomar as ações da partida, o Liverpool deve se atentar as movimentações do Benzema e utilizar da qualidade de Arnold e Thiago para acionarem o trio de ataque no contra-ataque, que ainda conta com os excelentes apoios de Gini e Robertson. Se o Zidane optar por entregar a bola ao Liverpool, fechar os espaços e ser vertical quando recuperar a bola, Kroos e Modric encontrarão caminhos para ativar a explosão de Vinicius Jr, além da inteligência acima da média de Benzema de ocupar espaços, e o francês está acostumado a fazer gol contra o Liverpool, nenhum jogador balançou mais as redes dos Reds que o francês na história da competição.
Um jogo de xadrez com fortes candidatos a protagonistas
Tanto Liverpool quanto Real Madrid sofreram muito nessa temporada com desfalques por lesão. Um dos temas mais abordados do futebol mundial nos últimos anos, inclusive, não será pauta desse jogo, já que Sergio Ramos e Virgil Van Dijk estão no departamento médico. Somadas todas essas semelhanças, as duas equipes têm dificuldade para jogar contra defesas sólidas, mas também tem peças para resolvem jogos apesar dos pesares. Benzema pelo lado merengue e um meio de campo potencializado por uma trinca multicampeã com Modric, Kroos e Casemiro, enquanto pelo lado do Liverpool, Diogo Jota e Salah somam gols decisivos para a equipe na temporada, tendo Arnold como peça-chave nas assistências e Thiago, que sempre cresce em noites europeias.
Texto produzido pelo portal ORed.