Conheça Aurélien Tchouaméni, jovem volante que deixa o Monaco para se juntar ao Real Madrid
Aurélien Tchouaméni, jovem francês de apenas 22 anos, será o novo jogador do Real Madrid a partir da próxima temporada. O clube merengue contratou-o junto ao Monaco, clube que disputa a Ligue 1, e a transferência custou aos cofres madridistas cerca de 80 milhões de euros. No entanto, o valor pode atingir os 100 milhões a partir de algumas variáveis no contrato que os clubes assinaram.
Tchouaméni atua como volante e é reconhecido como um dos grandes talentos de sua posição. Sua contratação foi disputada por PSG e Liverpool, com outros clubes como Manchester United observando de longe, mas o francês estava determinado em jogar pelo Real Madrid, e só ouviu as propostas do clube merengue.
Aos 22 anos, o francês se firmou como peça importante no Monaco de Philippe Clement. O time cresceu na reta final da temporada e conseguiu uma vaga na fase preliminar da Champions League, contando com Tchouaméni como pilar no meio de campo. Além disso, o volante já tem 10 atuações pela Seleção Francesa, e já marcou um gol. Pelo Monaco, na temporada, foram 50 jogos disputados, distribuídos entre Ligue 1, Copa da França, Europa League e Eliminatórias da Champions. Nessas partidas, Tchouaméni marcou cinco gols e contribuiu com três assistências.
Quem é Tchouaméni?
O francês começou sua carreira profissional no Bordeaux, em 2018. Um ano e meio mais tarde, no começo de 2020, o Monaco desembolsou cerca de 18 milhões de euros e assegurou a contratação de Tchouaméni até o meio de 2024. No entanto, ele só explodiria para o mundo na temporada 20/21. Sua grande temporada lhe rendeu o Troféu Esperança da UNFP (União Nacional dos Futebolistas Profissionais), que premia o melhor jogador jovem da Ligue 1. Além disso, em 26 de agosto de 2021, a temporada de Tchouaméni ganharia mais uma recompensa: sua primeira convocação para a Seleção Francesa principal.
O Monaco começou a temporada 21/22 com instabilidade. A queda precoce na Champions League, antes mesmo da fase de grupos, foi o primeiro sinal de alerta. Além disso, o time terminou o primeiro turno da Ligue 1 com oito vitórias, cinco empates e seis derrotas, no sexto lugar. A fase conturbada da equipe resultou na demissão do técnico Niko Kovac, e desse modo o belga Philippe Clement assumiu o lugar do croata. A segunda metade da temporada foi mais regular para o Mônaco, rendendo o terceiro lugar na Ligue 1.
Tchouaméni se mostrou muito importante para o estilo de jogo de Clement. Atuando como volante em um 4-4-2, o francês formou uma bela dupla com seu compatriota Fofana, e normalmente é o mais recuado dos dois. Seu físico, fôlego, velocidade e posicionamento o tornam um muro defensivamente, além de uma máquina de pressionar. Além disso, Aurélien também contribui ofensivamente. O francês é muito bom conduzindo a bola em direção ao gol adversário, além de auxiliar e direcionar a saída de bola da equipe.
Tchouaméni defendendo: posicionamento no bloco postado
O Monaco costuma se defender em um 4-4-2 bem definido, com Tchouaméni e Fofana como os dois volantes alinhados aos dois meias. Uma das principais características desse desenho defensivo é a compactação do bloco, que conta com os jogadores muito próximos uns aos outros. Desse modo, o Monaco consegue fechar os espaços por dentro através dessa compactação. Por outro lado, essa postura frequentemente deixa espaços nas laterais.
Além disso, o Monaco conta também com a coordenação de seus jogadores, que se movem em conjunto e em função da bola. Tchouaméni é muito importante para essa estrutura, já que o francês é o pilar defensivo do meio de campo do time monegasco. Seu senso de posicionamento e capacidade de cobrir espaços permitem que essa organização tenha sucesso. Além disso, a coordenação do time é muito importante para o tipo de marcação que o Monaco se propõe a fazer. Philippe Clement exige de sua equipe uma marcação alta e intensa, que se movimenta em função da bola.
Além do 4-4-2, atuando como um dos volantes centrais, Tchouaméni também já foi utilizado em um 4-1-4-1 como o primeiro volante à frente da linha de defesa.
As exigências do 4-1-4-1 são diferentes do 4-4-2 tradicional de Clement: o volante tem muito mais área para cobrir, já que ele não tem um outro meio-campista a seu lado para preencher aquela área. Desse modo, Tchouaméni se torna praticamente o único responsável para marcar o espaço entre as linhas. É muito importante que ele se sinta confortável atuando no 4-1-4-1, pois essa é a principal formação que Ancelotti vem usando no Real Madrid quando o time se defende.
Tchouaméni defendendo: marcação no bloco médio
O Monaco de Philippe Clement se destaca por ser um time agressivo sem a bola. Desse modo, os jogadores procuram recuperar a bola ativamente ao invés de se postar em um bloco baixo e, de forma passiva, defender a própria área. O estilo de marcação do Monaco requer muita intensidade e coordenação dos jogadores, já que, caso contrário, o time cederia muitos espaços.
A marcação intensa começa já com o time em bloco médio e seu desenho defensivo estruturado no 4-4-2. Nesse momento, os volantes desempenham o papel principal, pois são eles que guiam a marcação e definem quando o time tentará recuperar a bola. O time, em seu 4-4-2, se compacta ao redor da bola, e os dois volantes se aproximam de onde sai a jogada. Então, o volante mais próximo da bola avança para tentar recuperá-la, enquanto o outro faz a cobertura.
Nesse cenário, Tchouaméni possui duas exigências. A primeira é saber o momento certo de desmanchar o desenho defensivo do Monaco, além de precisar ser certeiro no bote. O volante também precisa realizar uma recomposição rápida caso não consiga desarmar o adversário. A segunda é sua capacidade de realizar coberturas, pois ele também precisa compensar o espaço deixado quando seu companheiro se desprende da linha de meio de campo.
Tchouaméni defendendo: papel na marcação-pressão
Quando o adversário tem a bola em seu próprio campo, o Monaco sobe suas linhas para marcar a saída de bola. Para isso, a equipe de Clement realiza sua marcação-pressão com cinco homens: os dois atacantes, os dois meias abertos e um dos volantes. Assim, esses cinco jogadores se agrupam onde a jogada sai, enquanto o outro volante cobre o espaço deixado por eles.
Nesse cenário, Tchouaméni normalmente é o volante que fica recuado. Desse modo, a tarefa do francês é cobrir o espaço deixado por cinco, às vezes até seis jogadores que saltam de suas posições. Deixar tanto espaço assim resulta em dois principais perigos. O primeiro é a facilidade de inversões, já que praticamente todos os jogadores do meio pra frente se juntam em um só lugar, deixando o lado oposto do campo aberto. O segundo é o espaço nas costas da linha de marcação, pois como vários jogadores abandonam suas posições, há muita área descoberta nas costas desses jogadores.
Assim, Tchouaméni precisa bloquear o espaço para inversões e ainda cobrir a área nas costas dos jogadores. Por mais que a tarefa seja exigente, o francês se sai muito bem nela. Apesar do Monaco abrir muitos espaços quando sobe para marcar pressão, apenas 53% dos gols que o time tomou partiram de jogadas com bola rolando. Para efeito de comparação, o Chelsea, conhecido por sua solidez defensiva, sofreu 55% de seus gols em jogadas de bola rolando. Ou seja, Tchouaméni tem muito sucesso em cobrir os espaços que o time deixa.
Tchouaméni defendendo: cobrindo os avanços dos laterais
Outra característica do Monaco de Clement é a importância ofensiva de seus laterais. Aguilar, pela direita, e Caio Henrique, pela esquerda, atuam praticamente como pontas, e se posicionam próximos ao meio de campo desde o começo do jogo. Caio Henrique, com passagens pelo Fluminense e pelo Atlético de Madrid, foi o segundo brasileiro com mais assistências na temporada europeia, atrás apenas de Vinícius Júnior.
Mais uma vez, Tchouaméni se vê obrigado a cobrir os espaços nas costas de seus companheiros. Atuar com ambos os laterais tão ofensivos assim implica que os lados do campo terão muito espaço, e o Monaco compensa isso através de seus volantes.
Além disso, o Monaco, sem a bola, costuma contar com a agressividade de seus laterais, que sobem para marcar os lados em posições mais altas no campo e permitem que os meias abertos marquem por dentro. Assim, o mesmo problema volta a acontecer: o jogador que sai de sua posição original para pressionar deixa um grande espaço às suas costas. Com os laterais, esse problema é ainda mais crítico, pois há menos jogadores próximos a eles que podem cobrir esses espaços. Assim, frequentemente os zagueiros são expostos a situações de um contra um. Para evitar isso, Tchouaméni é o responsável por sair de sua posição e se colocar no espaço vazio no lado do campo.
Tchouaméni defendendo: bloco baixo e proteção da própria área
Quando o Monaco é forçado a recuar e a defender a própria área, Tchouaméni para de se preocupar em cobrir as laterais e se posiciona próximo à meia-lua. Assim, o francês foca em proteger a entrada da área.
Nesse cenário, outra característica importante de Tchouaméni se mostra necessária: a capacidade do francês de realizar interceptações. A entrada da área costuma ser o grande alvo da maioria dos ataques, e se torna facilmente uma fraqueza se não for bem defendida. Assim, Tchouaméni bloqueia cruzamentos, passes e até investidas de jogadores conduzindo a bola naquela área, atuando como um verdadeiro “cão de guarda”.
Além disso, Tchouaméni também é muito importante quando o time precisa recompor quando perde a bola, correndo para trás ao enfrentar um contra-ataque. Com os dois laterais avançados e um volante que ataca mais, Tchouaméni frequentemente recompõe como um zagueiro e defende dentro da área enquanto o time volta para defender e arma o bloco de marcação. Esse comportamento do francês se mostra muito efetivo, já que o Mônaco sofreu apenas 1 gol de contra-ataque durante toda a temporada.
Tchouaméni defendendo: principais qualidades e números na temporada
O volante francês se destacou na temporada 21/22 pelo Monaco atuando como o típico “5” do futebol brasileiro: um jogador de muita força física, imponente nos duelos aéreos, que defende a entrada da área e cobre muito bem os espaços que seus companheiros deixam quando avançam para atacar. Além disso, Tchouaméni se mostrou muito forte nas antecipações ao ler as jogadas corretamente e conseguir cortar passes, lançamentos e cruzamentos na hora certa.
O camisa 8 do Monaco se destacou como um grande recuperador de bolas: ele recupera a posse de bola para o próprio time, em média, 2,06 vezes por partida. Para efeito de comparação, Casemiro recupera a posse de bola para o Real Madrid 2,25 vezes a cada jogo. Tchouaméni defende 43% dos dribles sobre ele, contra 45% do volante brasileiro. Além disso, o francês tem sucesso em 35% das vezes que pressiona o adversário. Sua qualidade nas antecipações também se reflete nos números: Tchouaméni realiza 2,6 interceptações e 2,3 divididas por jogo.
Tchouaméni atacando: saída de bola
Apesar de se destacar muito por suas qualidades defensivas, Tchouaméni é também uma peça fundamental para o funcionamento ofensivo do Monaco de Philippe Clement. O time monegasco busca elaborar seus ataques desde o goleiro, através de uma saída de bola limpa, e a participação do volante no jogo ofensivo começa justamente aí.
Assim, o Monaco conta com a participação ativa de seu camisa 8 para estruturar sua saída de bola. Tchouaméni atua em duas variações nessa primeira troca de passes. Na primeira, o francês fica alinhado com o outro volante e o Monaco se alinha em um 2 + 2: os dois zagueiros bem próximos ao goleiro e os dois volantes a frente dos defensores. Os laterais ficam espetados próximos ao meio de campo, e a saída de bola é realizada apenas por esses quatro jogadores de linha.
Porém, a formação mais usada pelo Monaco é a estrutura em 3 + 1 na saída de bola. Nessa variação, Tchouaméni recua entre os zagueiros para ser uma opção de passe a mais perto da área, formando uma linha de três. O outro volante mantém sua posição, e se posiciona a frente dessa linha. Assim, o Monaco consegue uma saída de bola mais limpa, pois desse modo o time constrói uma superioridade numérica na entrada da área.
Tchouaméni atacando: time avançado em campo
A partir de sua posição recuada na saída de bola, Tchouaméni passa a mostrar sua importância ofensiva no Monaco: o francês é o primeiro jogador a receber a bola dos zagueiros, e tem a responsabilidade de guiar a posse de bola e direcionar os ataques do time. Assim, os passes do camisa 8 frequentemente são passes verticais, que fazem o time progredir, e normalmente são em direção ao volante à sua frente ou aos laterais que se posicionam mais avançados.
O papel do francês como o principal construtor do time se mostra em suas estatísticas: os passes de Tchouaméni avançam, em média, 255 metros a cada jogo. Isso significa que, a cada 90 minutos, os passes do francês em direção ao gol adversário somam 255 metros percorridos, um ótimo indicador de seus passes verticais. Além disso, o volante possui belos índices de acerto de passe: 90% de acerto nos passes curtos, 89,5% nos passes médios e 78% nos passes longos. Por fim, Tchouaméni também se mostra excelente em superar as pressões dos adversários, já que ele atua em uma área muito pressionada e mesmo assim tem sucesso, acertando 10 passes sob pressão por jogo. Para comparar, Toni Kroos, principal armador do Real Madrid, completa 8 passes sob pressão por jogo.
Além de atuar como um construtor de jogadas, Tchouaméni também participa dos ataques do Monaco em partes mais avançadas do campo. Nesse cenário, a principal característica do francês é sua habilidade para a condução de bola. O volante conduz a bola, em média, 51 vezes por jogo, 13 a menos que Luka Modric, um dos melhores do mundo no quesito. Além disso, o camisa 8 do Monaco avança 118 metros em direção ao gol adversário por partida conduzindo a bola, contra 150 metros do jogador do Real Madrid.
Tchouaméni pela Seleção Francesa: papel defensivo
Tchouaméni esteve presente na última convocação da Seleção Francesa para a disputa da Nations League, e foi o único jogador do time a disputar todos os três jogos da Data FIFA até aqui. Contra a Áustria, na última sexta-feira (10), Tchouaméni foi escalado ao lado de Kamara em um 4-4-2.
O 4-4-2 que Deschamps armou tinha um funcionamento defensivo semelhante ao do Monaco, então Tchouaméni não estava em um ambiente estranho. Ele e Kamara se revezavam: enquanto um se desprendia da linha para pressionar o portador da bola, o outro cobria o espaço que se abria no meio de campo. Porém, ao invés de atuar mais como o volante recuado, Tchouaméni era quem mais avançava para pressionar.
Além disso, Tchouaméni continuou mostrando sua qualidade nas antecipações. Assim, o camisa 8 foi muito importante para congestionar o jogo da Áustria pelo meio. As antecipações do francês eram importantes para matar as jogadas austríacas desde o começo, impedindo que os donos da casa avançassem.
Tchouaméni pela Seleção Francesa: papel ofensivo
A saída de bola da França na partida contra a Áustria também não era um ambiente novo para Tchouaméni, já que o time de Deschamps procurava se posicionar na estrutura 4 + 2 para começar a construir suas jogadas. Os laterais Theo Hernández e Pavard ficavam um pouco mais avançados em relação aos zagueiros e eram as principais opções de passe nos lados do campo. Enquanto isso, Tchouaméni e Kamara se posicionavam a frente dos 4 defensores. Desse modo, a França conseguia posicionar seis jogadores de linha na saída de bola, e conseguia iniciar suas jogadas com um relativo conforto, contando com a qualidade de Tchouaméni em realizar passes sob pressão.
No entanto, a França apresentava uma variação na sua estrutura de saída de bola a partir de Tchouaméni. Para aproveitar a qualidade do camisa 8, Deschamps dava a liberdade para que o volante se alinhasse aos zagueiros, formando uma linha de três homens na saída de bola e aumentando ainda mais a superioridade numérica da França.
Após a saída de bola, a França buscava um jogo direto, com passes verticais e jogadas pelos lados do campo. Assim, a função de Tchouaméni era rodar a bola rapidamente pela faixa central e acionar os atacantes ou os pontas. Além disso, a forte marcação da Áustria não permitia que Tchouaméni tivesse muito tempo com a bola no pé. Mesmo assim, o camisa 8 deu 61 toques na bola em apenas 63 minutos em campo, além de acertar 84% de seus passes.
Considerações finais: é o substituto ideal para Casemiro?
Em suma, Tchouaméni é um primeiro volante de muita força física e muito forte defensivamente, capaz de antecipar as jogadas com muita qualidade, cobrir longos espaços e proteger muito bem a entrada da área. Além disso, o francês também é um excelente jogador com a bola no pé, e se destacou como o principal organizador do Monaco na temporada. Por fim, Tchouaméni também é um ótimo condutor de bola, e se destaca mesmo quando comparado a Luka Modric, meia armador muito conhecido por sua capacidade em conduzir a bola em direção ao gol.
Tchouaméni chega claramente para ser um reserva e possível sucessor para Casemiro. Sua contratação segue o padrão de Federico Valverde, de 23 anos, e de Eduardo Camavinga, de 19 anos, e mostra que o Real Madrid já busca uma renovação para seu meio de campo. Assim, o clube merengue vislumbra um futuro trio de meio-campistas composto por Tchouaméni, Camavinga e Valverde.
O camisa 8 do Monaco é muito semelhante a Casemiro em vários pontos. Em primeiro lugar, ambos se destacam fisicamente e mostram a capacidade de atuar durante 90 minutos percorrendo uma faixa enorme do campo. Em segundo lugar, os dois costumam encarar situações onde precisam cobrir o avanço de múltiplos jogadores. Além disso, tanto Casemiro como Tchouaméni são ótimos defensores e se saem muito bem ao defender a entrada da área.
Porém, Tchouaméni está acostumado em atuar em um 4-4-2 e ter um volante a seu lado para lhe ajudar nas coberturas. No Real Madrid, Casemiro costuma atuar em um 4-1-4-1, e portanto precisa cobrir todo o espaço entre as linhas praticamente sozinho. No entanto, Tchouaméni possui apenas 22 anos e, além de já ser muito semelhante a Casemiro, ainda pode evoluir muito na carreira e suceder o brasileiro no meio de campo do Real Madrid.